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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




segunda-feira, 11 de março de 2024

O folguedo do boi no Campo das Vertentes/MG

                                                                                                                                 Ulisses Passarelli (*)

 

"Praça de Touros – No Domingo effectuou a Companhia Tauromachica mais um concorridissimo espectaculo, tendo havido variadas sortes, nas quaes todos os artistas foram bastantemente applaudidos. Poderiam entretanto mais fazerem, serem muito mais felizes se tivessem encontrado rezes mais bravas. No Domingo haverá novo espectaculo.” (Jornal O Combate, n.171, 04/06/1902)



 
O texto em epígrafe revela como noticiou um antigo jornal de São João del-Rei acerca das touradas, àquela época muito queridas. Elas faziam as alegrias nas festas do Espírito Santo no Bairro Matosinhos. Essas corridas de touro foram proibidas em 1934, durante o governo Getúlio Vargas.

O desenvolvimento da consciência protecionista tem evoluído e combatido qualquer forma de entretenimento que implique em estresse ou maltrato ao animal, tal como a farra do boi no sul, a rinha de galos (desde longa data proibida) ou a de canários da terra, assim também as antigas praças de touros.

Mas no teatro folclórico o boi é personagem querido e persevera sua mística na representação dos folguedos, encontrando seu ponto mais elevado no bumba-meu-boi, um dos mais expressivos autos da cultura popular nacional.

O bumba é o um dos folguedos mais importantes do país, vastamente distribuído em território nacional, praticamente conhecido em todos os estados, em versões simples ou complexas, congregando em torno de si muitos personagens, cantorias, músicas e um belo efeito visual. Sua matriz é um boi de fingimento, ou antes, armação imitando bovino, sob o qual se mete um sujeito (“tripa”, “miolo”) a dar cabeçadas nos circunstantes, com música, cantoria e dança.

Tem remota origem europeia, conhecida desde longa dada em Espanha, tal como em Portugal. Mas aqui o brasileiro soube inserir todo um complexo cultural formado em torno do gado, um verdadeiro ciclo temático que contribuiu para a nova fisionomia do folguedo, graças às múltiplas influências das culturas afro e ameríndia, que foram essencial para a composição dos grupos da manifestação em apreço.

A bibliografia especializada em folclore não traz informes substanciais sobre o bumba-meu-boi em Minas Gerais. Entretanto, de versões mais humildes às elaboradas o folguedo aqui sobrevive. Neste texto está reunido um conjunto de informes de como a tradição do boi se desenvolve de forma simplificada no centro-sul deste estado, Mesorregião Campos das Vertentes, bacia do Rio das Mortes.

São João del-Rei conhece a tradição desde longa data, desgarrado no meio de blocos de carnaval, principalmente do Bairro Tijuco, vindo da comunidade das Águas Férreas. Pequenos grupos se divertiam pelas periferias desta cidade histórica fazendo desfilar o boi, tal como o do falado “seu Inácio”, dos lados da Vila São Bento (imediações da Igreja de São José Operário, Bairro Tijuco), além de outros. Desgarrado entre batuqueiros dando arrancos e chifradas rua afora, sempre atiçado e pondo crianças a correr. Não temos o folguedo do bumba-meu-boi em sua complexidade estrutural, mas seu personagem central aqui surgia fazendo as alegrias do carnaval de rua, com o nome de “boi, boizinho e rancho do boi”. Dançava isolado, investindo com chifradas contra a meninada que lhe atiçava sem parar. Dançava aos volteios, descrevendo círculos e carreiras. Vinha acompanhado por uma charanga ou batucada, que executava os ritmos carnavalescos. Não há personagens senão o boi de fingimento, feito com uma armação coberta de pano, cabeça de caveira e rabo postiço. Um dançante movimenta o estafermo, oculto sobre ele. Ficou afamado o Rancho do Boi de “seu Fausto” (Fausto de Almeida, falecido em 19/05/1953), no Bairro das Fábricas.

Informações dão conta que no passado foi conhecido no distrito de São Miguel do Cajuru, em São João del-Rei, segundo SACRAMENTO (2000), saindo na festa do padroeiro, São Miguel Arcanjo, em setembro: "Lembro-me de uma pessoa travestida de boi, cabeça com chifres, restante coberto por pano estampado animando e dando carreiras nos mais distraídos e nos meninos". O mesmo autor, em outro lúcido e importante registro (2010), informa ainda sobre o boi na Festa do Carmo, no povoado do Caquende, também em território são-joanense: “assustavam as pessoas, causando algazarra geral.”

Noutro distrito são-joanense, São Gonçalo do Amarante, também é conhecido, com a particularidade de sair no Domingo da Páscoa antecedendo a queima do judas, de rua em rua até terminar junto à chácara do judas onde concluía seu desfile dando lugar ao ritual de queima do boneco. É o “boi-malhado”, nos dizeres do informante Lourival Amâncio de Paula, o Vavá, baluarte da cultura local. Este boi saiu pela última vez no ano de 1999 e depois somente em 2014 se repetiu e desde então não aconteceu mais. Confeccionado sobre um grande balaio emborcado, debaixo do qual se oculta o homem que lhe dá vida em movimento de avanço e recuo, se faz acompanhar de vários tocadores locais, de pandeiro, caixa, violão, bandolim, sanfona e xique-xique, todos eles congadeiros do lugar. O boi-malhado faz a alegria da criançada. Com seus pegas rua afora, põe os pequenos a correr, mas que logo voltam para puxar o rabo do bicho ou fazer-lhe arruaças na dianteira, fingindo-se pequenos toureiros. Além do boi e das explosões de bombas da queima do judas a criançada de São Gonçalo do Amarante também tinha nesta ocasião o pau de sebo para se divertir.

Meu pai, David Passarelli, que em 1968 trabalhou na mineração do Penedo, no município de Ritápolis, teve oportunidade de lá ver um grupo desses pelas ruas poeirentas, a correr atrás da molecada em grande alarido. Infelizmente não se lembrava de qual era a festividade.

Pude observar um boi no carnaval da cidade de Ritápolis em 2001, inserido no bloco Enterro do Zé Pereira. O boi tinha a aberração de ter duas cabeças.

PELLEGRINI FILHO (2000) registrou em fotografia o boi no carnaval de Tiradentes. Naquele município tradicionalizou-se sob a alcunha do próprio organizador: "Boi do Culóia".

Notícias orais dão conta que já houve também em Resende Costa.

Em Santa Cruz de Minas encontrei o boi em 2002, inserido no Bloco das Piranhas.

Ainda em tempo, vale mencionar o “Boi de Caveira”, tradição da comunidade de Pedra Negra, que originalmente se desenvolveu tendo ao centro uma estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas, no município de Bom Sucesso, área limítrofe com o Campo das Vertentes, mas já na Mesorregião Centro-Oeste de Minas. Com a invasão das águas da Represa do Funil, a comunidade foi inundada. Na margem oposta do Rio das Mortes (esquerda), se formou a comunidade de Nova Pedra Negra, no município de Ijaci, este sim, no Campo das vertentes, Microrregião de Lavras.

Lavras, que aliás, possuiu segundo LIMA (1970) um bumba-meu-boi que, por sua descrição em um paper gentilmente ofertado pelo Professor Affonso Furtado, do Acervo do Projeto Reisados Brasileiros, tinha uma estrutura que recordava tanto os bois nordestinos quanto os catarinenses, distante do padrão regional dos outros bumbas citados nesta postagem. O Bumba-meu-boi de Lavras contava com um entrecho dramático no qual o Vaqueiro, ferido pelo boi, deitava em dores junto ao chão, onde era acudido pelo Doutor, que o curava com esfuziante alegria da troupe. Havia ainda um entremeio com a dança das fitas; e personagens animais e fantásticos, como o Cavalo Marinho, o Urso e até a Bernúncia. Sem dúvidas um caso inusitado para a geografia do boi e está a merecer uma análise meticulosa.

Mas se todos os bois acima enumerados desapareceram na poeira do tempo, ecoando do passado como memória e saudade da tradição, necessário se faz destacar aqueles outros que teimando contra os reveses insistem em se manter ativos nesta região mineira.

Sobrevive em Barroso, arrastando multidão na abertura do carnaval, sob o nome de “Boi-mamado”. Notícias jornalísticas do ano de 2019 davam conta que o bloco existia há catorze anos e ressentia naquele ano de desfilar acompanhado por carro de som em vez da tradicional bandinha, devido à falta de apoio do poder público municipal, segundo matéria consultada.

Dores de Campos mantém o “Boi do Major”, tradição arraigada, musicalizada por uma banda de metais, formada por músicos dorenses. Após um período de paralisação, foi revitalizado em 2017 e segue em atividade, movimentando o boi para alegria das crianças e adultos. O nome do bloco remete à alcunha do músico local Dácio Silva, trombonista muito querido na comunidade.

Em Coronel Xavier Chaves ainda é realizado com o nome de “Boi de Caiado”. O ritmo é alegre, com um cantador solista tirando versos improvisados insistentemente contraponteados pelo coro, com um refrão tradicionalíssimo:

“_ Esse boi é meu!

_ Êh, boi!

Esse boi de caiado!

_ Êh, boi!

O meu boi tá cansado!

_ Êh, boi!, etc.”

 



O Boi de Caiado, manifestação folclórica de raízes muito antigas e típicas do lugar. A comunidade partícipe mostra seu valor afro pelas danças, vestimentas e pela afirmação de identidade na participação conjunta e harmônica, demonstrando empoderamento do território onde está inserida.

O Boi de Caiado é um boi de carnaval ou bloco do boi, variante simples do bumba-meu-boi, que sobrevive na cidade de Coronel Xavier Chaves, com típicas características folclóricas. Atualmente seu organizador é o Mestre Zé Carreiro, alcunha do sr. José do Rosário Anacleto, natural daquela cidade, octagenário. Mestre no sentido exato que a palavra comporta no campo da cultura popular. Alma límpida e bondosa, memória notável, caráter ilibado. É capitão do congado local, responsável pela folia de Reis, canta calangos e se orgulha da longa experiência com carros de bois, que justamente lhe valeu a respeitosa alcunha. Informou ter aprendido o boi no povoado da Cachoeira, no mesmo município, ainda criança, aos oito anos de idade, quando sua mãe o levava na época do frio para acompanhar as festas juninas. Lá o Boi de Caiado dançava para alegria da petizada.

Passados os anos formou-se o grupo da cidade, com períodos mais e menos ativos e sob direção de outras pessoas até que o assumiu. Dele participam na instrumentação sobretudo seus companheiros de folia e congado, e outros amigos, que se desdobram em mais esta função. A bateria é formada por tarol, bumbo, surdos e caixas. A percussão forte e bem compassada, vai em batucada pelas ruas e cantam sambas e marchinhas típicas do carnaval, sem canto específico.

Saem do bairro Vila Fátima, antigo Tanque. O nome primitivo se referia a um tanque ou dique (mundéu) que retinha a água usada para mover a roda d'água do engenho de cachaça e para serviços de faiscagem de ouro. Tradicionalmente é uma comunidade negra, que conserva intensamente uma parcela importantíssima e fundamental da cultura xavierense e que merece toda atenção.

Os instrumentistas formam o âmago do bloco, após os quais seguem foliões, enfeitados ou não, que aderem à batucada rua afora. Os bois em si tem posição totalmente livre, com movimentação ampla pelas laterais, ora na dianteira correndo atrás das crianças ora de recuo vão à retaguarda como se numa ronda. Fazem mesuras para os adultos, salamaleques graciosos e despertam a empatia das pessoas. A alegoria de boi é movida por um animado brincante, que põe em polvorosa a criançada, que corre espavorida das investidas do bicho. O boi é bravo e sonso. Finge de manso e quando as crianças se aproximam confiantes, avança, mas logo recua. Faz volteios, corrupios. Não é agressivo. Correr atrás faz parte da brincadeira e em verdade é sua maior graça. Já por isto, dentro dessa regra, as próprias crianças provocam bastante o boi, estimulando-o à perseguição. Não há violência alguma. Tudo transcorre de forma espontânea, eivada de alegria e harmonia.

O bloco vai se encorpando pelo caminho rumo à área central da cidade. Mais gente vai aderindo ao seu balanceio contagiante. Seu ritmo não deixa ninguém parado...

Quanto ao nome, explicou Zé Carreiro que desde sua infância o nome já era este, boi de caiado, como se dizia na Cachoeira. Não soube explicar a origem. Apenas disse que é tradicional e foi mantido. É possível que "caiado" ser corruptela de "gaiado": chifrudo, o que tem gaias (galhas) grandes; ou ainda é um tipo de pelagem de animal fazendo redemoinhos dos pelos do peito ou pescoço; cavalo-gaiado: o que tem torvelinhos nos pelos. Ambas interpretações são possíveis.

Por fim destacamos a versão de bumba-meu-boi da cidade de Prados, onde a tradição se conservou forte sob o nome de “Boi-mofado”. Arrastando uma multidão atrás da batucada, movida por suas marchas e refrões... Sai acompanhado pela mulinha e pelo toureiro, e ainda, mascarados, que vem na esteira do cortejo. Conta-se que surgiu no período da escravidão, pelas mãos dos cativos. Terminados os festejos, em razão da dificuldade que tinham de conseguir material para um novo boi, guardavam-no num canto da senzala, em condições precárias de iluminação, ventilação e umidade. No outro ano, quando iam dançar com ele de novo, o pano de revestimento ("couro") tinha manchas de bolor. O mofo acumulara pela má conservação. O nome surgiu então pejorativo, mas com o tempo se fixou como identidade, perdendo o tom zombeteiro.

Seus grupos se mantiveram ao longo das gerações. A tradição oral diz que o grupo que havia na localidade do Muniz, na zona rural, era o mais antigo; mas, extinguiu-se. Em contrapartida formaram-se outros na cidade. Dos mais velhos era o do Bairro Pinheiro Chagas, ora desativado, mas com promessas de reativação. Perseveram três grupos de boi mofado em atividade, que tem seu próprio nome: o Boi Chitado, na Atalaia, o Boi Chitão, na Rua de Baixo e o Boi Topa Tudo, no Quebra Castanha. No ano 2000, acompanhando o encontro dos bois, nas ruas centrais da acolhedora cidade, ainda vimos os quatro grupos em ação.

Em essência se compõe de uma charanga de músicos da comunidade, com indispensável percussão (surdo, bumbo, tarol, pandeiro) e harmonizando vem um acordeon ou instrumentos de sopro (trombone, trompete, sax). Na frente surge o boi em bailado livre, negaceando para todas as direções; avança, recua, corre, gira, faz salamaleques, ataca repentino. Nessa movimentação brinca com adultos e crianças, mas são sobretudo estas que se envolvem em correria danada, rindo... As menorzinhas tem medo; as maiores são provocativas. Além do boi sempre aparecem mascarados diversos, gente enfeitada, foliões desgarrados que aderem à passagem animadíssima do boi, que carreia grande acompanhamento de gente fazendo coro. Alguns grupos mantém um personagem tradicional: o cavalinho, burrinha ou mulinha, feito de uma armação em balaio emborcado, revestido por um pano, no qual se mete o folião como se o cavalgasse. A cabeça e o rabo fingidos compõe a alegoria. O cavalinho rodeia o boi, como se o acompanhasse na movimentação. Por vezes também aparece um toureiro.

O boi em si é relativamente grande em relação a outros bois de bumbas. A estrutura corporal é rígida ("boi duro"), mas o pescoço, que é relativamente longo, mostra uma flexibilidade limitada. Os chifres são enfeitados de fitas coloridas e costumam ser argolados, como um boi carreiro.

Naturalmente existe uma certa rivalidade entre os bois de Prados; sadia, contudo. Um momento pitoresco é quando se encontram sob a tenda armada na praça: frente a frente se ameaçam cabeçada, como dois marruás brigando num pasto. Mas a briga de fato não acontece, a não ser no campo simbólico. Os grupos cantam. Ora música comum de carnaval, bem popular; ora a marcha própria do boi, com um verso solista intercalado com o refrão coral fixo, "êh boi":

 

"_ Esse boi não é meu...

_ Êh! Boi!

_ É da Rua de Baixo!

_ Êh! Boi!

_ Ele é muito macho!

_ Êh! Boi!" (Etc.)

 

Suas músicas são simples, próprias do tempo carnavalesco, além de marchinhas alegres com refrão curto:

_ "O meu boi é mofado!

_ Êh! Boi!

_ Ele é pintadinho!

_ Êh! Boi!

_ Esse boi é bonito!

_ Êh! Boi!"

_ Ô vem cá meu boi!

_ Êh! Boi!" (etc.)

 



Em tudo o Boi-mofado é espontâneo. Manifestação legítima da cultura popular ele é livre de amarras de formato. É aberto à adesão da assistência por onde passa. Sua passagem alegre contagia o folião, agita o turista e envolve as crianças. Percebe-se o carinho do pradense para com a manifestação, que indubitavelmente faz parte de seu folclore.

Basicamente assim são os bois das Vertentes, essa aprazível região mineira. Se a maioria dos grupos estão em ocaso em suas localidades, por outro lado sobrevivem vigorosamente em Barroso, Dores de Campos, Coronel Xavier Chaves e Prados. Que tenham vida longa, integrados ao patrimônio cultural de suas respectivas comunidades mantenedoras.

 

Referências bibliográfica

COIMBRA, Pedro (Org.). Às margens do Rio Grande: registro histórico-cultural das áreas diretamente afetadas, de entorno e de influência da UHE Funil. Consórcio do Aproveitamento Elétrico do Funil. Lavras, 2012. 230p.il.

LIMA, Jacy de Sousa. O bumba meu boi em Lavras. Comissão Nacional de Folclore, Rio de Janeiro, Documento n.576, 19 de março de 1970.

SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. Alguns Estudos Barroquizantes (ou "Estrondoso Brado") acerca do antigo arraial de São Miguel do Cajuru. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, n.9, 2000.

PELLEGRINI FILHO, Américo. Turismo Cultural em Tiradentes: estudo de metodologia aplicada. São Paulo: Manole, 2000. 188p.il. Prancha 28E.

 

Referências hemerográficas


Prados faz a Festa do Boi Mofado. Gazeta de São João del-Rei, n.81, 12/02/2000.

Boi mofado completa 150 anos de folia. Gazeta de São João del-Rei, n.389, 11/02/2006.

Carnaval já faz sambar o Campo das Vertentes: em Prados. "Boi Mofado" anima foliões. Gazeta de São João del-Rei, n.544, 31/01/2009.

SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. Caquende. Jornal de Minas, São João del-Rei, nº125, ano 10, 28/05 a 03/06/2010.

Referências na internet

Boi Mamado abre o carnaval de Barroso nesta quinta-feira. 

Barroso em Dia, 28 de fevereiro de 2019. Disponível em:

 https://barrosoemdia.com.br/destaque/boi-mamado-abre-o-carnaval-de-barroso-nesta-quinta-feira/ 

Acessado em 17/10/2021, 16:17h.

Bloco do Boi Mamado abriu o carnaval de Barroso 2019. Barroso em Dia, 01 de março de 2019. 

Disponível em: https://barrosoemdia.com.br/destaque/bloco-do-boi-mamado-abriu-o-carnaval-barroso-2019/ Acessado em 17/10/2021, 16:20h. 

Para a alegria da criançada dorense, o Boi do Major está de volta. Portal Dores de Campos. Disponível em: https://portaldoresdecampos.com.br/para-a-alegria-da-criancada-dorense-o-boi-do-major-esta-de-volta/ Acessado em 17/10/2021, 16:35h. 

Organizadores do Boi do major estão pedindo ajuda dos dorenses. Portal Dores de Campos. Disponível em: https://portaldoresdecampos.com.br/organizadores-do-boi-do-major-estao-pedindo-a-ajuda-dos-dorenses/ Acessado em 17/10/2021, 16:37h






Bloco do Bumba meu Boi, Bom Sucesso/MG. 12/02/2024. Autor: Ulisses Passarelli. 




Boi do Major, Dores de Campos. 08/02/2024. Autor: Ulisses Passarelli. 




Boi de Caiado. Coronel Xavier Chaves. 13/02/2018. Autor: Iago C.S. Passarelli.




Boi Mofado. Prados. 28/02/2019. Autor: Ulisses Passsarelli. 

* Publicado em: ABRÃO, Felipe Calil (Org.). Boiada Reunida. Goiânia: Alta Performance, 2023. 201p.
** As fotografias não fazem parte da publicação original. 

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Notas de jornal: notícias da velha São João del-Rei e vizinhanças

O acervo hemerográfico da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, em São João del-Rei/MG, guarda um conjunto notável de exemplares de antigos jornais publicados nesta cidade, cuja leitura nos faculta muito mais que uma poética e nostálgica volta ao passado. Em verdade é uma fonte riquíssima de conteúdo para os estudos históricos deste município e circunvizinhança. 

Muitas das notícias nos parecem pitorescas se vistas aos olhos de hoje. No entanto devem ser observadas não exatamente em comparação aos tempos hodiernos, mas de fato no contexto de seu período temporal. Elas retratam um fato imerso numa sociedade que caminhava sob a cultura, economia e visão de mundo daquele tempo. 

Talvez, algumas dessas notícias tenham fugido à pena dos "documentos oficiais". Mas algum tipógrafo, juntando letrinhas de ferro, montou a notícia, que se configura hoje como uma fonte para consulta e pesquisa. Segue pois, ao modo literalmente aleatório, mais uma amostragem livre de notícias jornalísticas locais, em mera exposição ou coletânea, cuja única pretensão é dar um pouco mais de visibilidade a estes fatos perdidos na poeira do tempo. Diante de cada notícia exposta por hifens, segue a referência do nome, número da edição e data do jornal consultado. 

Vista parcial da Rua Getúlio Vargas, em São João del-Rei,
primitiva Rua Direita. Data: 26/05/2020.

*  *  *

- A resolução n.259, de 29/04/1901 autorizou despesas no conserto da ponte em frente à estação do Rio das Mortes [1].

(O Combate, n.87, 13/08/1901). A edição seguinte do mesmo jornal, datada de 15 de agosto, fala em reconstrução da dita ponte. O valor orçado era de 6:498$100. 

A obra foi arrematada pelo Major Carneiro Felippe, único concorrente. A provocação da necessidade de construir uma nova "ponte do Rio das Mortes, chamada do Congo Fino", partiu do Vereador Tenente Euzébio de Rezende, representante distrital de Conceição da Barra. (O Combate, n.95, 31/08/1901).

A imprensa noticiou sobre o andamento da obra: "está sendo realizada por arrematação do Major Carneiro Fellipe, cujas habilitações, como diretor da construção, é uma garantia de perfeição e segurança da obra". (O Combate, n.119, 02/11/1901).

Bênção e inauguração da Ponte do Congo Fino, na Estação do Rio das Mortes, a 49km ferroviários da cidade de São João del-Rei, no dia 25 de novembro de 1901. Pelas 8 horas partiu um trem especial, com um vagão de primeira classe conduzindo as autoridades.

Foram recebidos pela banda do arraial e por descargas de fogos de artifício. A ponte estava enfeitada. A bênção foi dada pelo Padre João Trindade. Leite de Castro entregou simbolicamente a ponte aos cuidados do conselho distrital, ante vivas da assistência. (O Combate, n.128, 30/11/1901).

A qualidade dessa ponte foi testada pouco depois pela força da natureza: três semanas depois, ela resistiu fortemente a enchentes imensas, ficando submersa por três dias, sem sofrer danos. (O Combate, n.133, 18/12/1901).

 

- Igreja de São Gonçalo Garcia [2]: pedido de ajuda financeira e pagamento de anuidades atrasadas, pois “vai entrar em importantes obras”. (O Combate, n.13, 26/09/1900)

 

- Resolução nº317, 25/02/1905, assinada pelo Diretor Dr. João Salustiano M. Mourão, autorizava o agente executivo municipal despender a despesa necessária para conserto, melhoramento ou remoção do atual matadouro [3] municipal com os valores colhidos do imposto de sangue. (O Repórter, n.12, 09/04/1905)

 

- Carneiro Fellipe e o Major José Moreira, Presidente da Associação Beneficente Portugueza, tiveram destacada presença nos festejos em homenagem ao alferes Xavier, em São João del-Rei, no ano de 1901. (O Combate, n.59, 27/04/1901).

 

- Alunos do professor Pinheiro Campos, do Ginásio São Francisco, dentre várias comemorações fizeram "às 13 horas, grande pic-nic no aprazivel local denominado Briguente"[4]Houve também baile, e ainda, concerto pela Orquestra Sinfônica no Teatro; etc. Missa. Visita à usina de eletricidade (no Rio Carandaí). (A Tribuna, n.1.331, 28/06/1936).

 

- Carnaval de 1907: reuniu grande multidão de mascarados na esquina da Rua Arthur Bernardes (ex- Moreira César) e Getúlio Vargas (ex- Duque de Caxias e primitiva Rua Direita), onde um coreto foi armado e nele se alternaram as bandas de música do Asilo de São Francisco e a da Oeste de Minas, que "estiveram esplendidas, executando bonitos e festivos dobrados, saltitantes polkas, ternas valsas e magnificos tangos." Não desfilou o famoso Clube X, aliás, nem no ano anterior, embora prometido para 1908. A agremiação "Dominós Fúnebres" fez um desfile de destaque. "O tiroteio de confetti, bisnagas e lança perfumes esteve fortissimo, entretanto, tudo na melhor ordem." [5] (O Repórter, n.3, 17/02/1907)

 

- Reforma do Largo de São Francisco: a Câmara manda instalar duas lâmpadas de arco voltaico na praça, razão de progresso para o lugar. (O Repórter, n.6, 11/03/1906).

 

- (Festa de Ramos) "Com a pompa de sempre, realisou-se no Domingo, o officio de Ramos e a noite teve logar a Procissão do Triumpho que fez o gyro costumado entrando na Matriz, de onde havia sahido." (O Combate, n.161, 26/03/1902) [6].

 

- (Bonfim): uma nota dá conta de vandalismo na Capela do Bonfim, pintada de pouco tempo e alvejada com frases obscenas escritas por indivíduos inescrupulosos em suas paredes. (A Tribuna, n.648, 21/05/1925). 

 

- (Botequim do Theatro) "Segundo deliberação da Câmara, em sua última sessão, vae ser posto em hasta publica o arrendamento annuo do Botequim do Theatro. A base do preço é de seis mil réis (6$000) por dia ou parte do espetáculo, sem mais pagamento algum." (O Combate, n.121, 07/11/1901).

 

- A Câmara Municipal lança edital para serviços, pondo em hasta pública o serviço de limpeza urbana, "e para o transporte de carnes verdes [7], devendo as carroças de lixo trazer tampa de madeira ou de zinco." (O Combate, n.132, 14/12/1901).

 

- O carnaval de 1902 correu desanimado. No coreto da esquina da Rua Direita, armado no meio da rua, tocou a banda militar, do 28º, durante três dias. Foi feito um passeio para o desfile dos mascarados, pouco numerosos naquele ano. No Club Sanjoannense o baile à fantasia esteve ótimo, tocando a Orquestra Ribeiro Bastos. (O Combate, n.149, 12/02/1902). 

 

- A lei n.83, de 29/01/1901 prorrogou por um ano o prazo de concessão da exploração de manganês, mica e areias, em São João del-Rei, concedido a Geraldo Rodrigues da Fonseca, para fazer a instalação definitiva. Não há citação ao local exato da atividade. (O Combate, n.87, 13/08/1901).

 

- A lei n.86, de 29/04/1901 ratificou contrato da luz elétrica firmado entre o agente executivo municipal e o cidadão Dr. Francisco de Assis Fonseca, em, 23 de fevereiro do mesmo ano. (O Combate, n.87, 13/08/1901).

 

- A resolução s/nº, de 23/06/1901 dispensou pagamento de licença para realização de um espetáculo equestre realizado a 02 de abril daquele ano em benefício da Igreja do Rosário. (O Combate, n.87, 13/08/1901).

 

- No dia 17 de setembro de 1901, o operário José dos Santos, da Ferrovia Oeste de Minas, teve a mão direita esmegalhada na plaina a vapor nas oficinas ferroviárias, resultando em amputação. (O Combate, n.103, 19/09/1901).

 

"Em Carrancas, districto da cidade de Lavras, preparam-se grandes festas em Junho e para ellas estão se apromptando os populares divertimentos das Cavalhadas [8] Ha grande animação para taes festas." (O Combate, n.160, 22/03/1902, nota sem título)

 

Texto, pesquisa, notas e fotografia: Ulisses Passarelli

 


[1] Estação do Rio das Mortes: mudou sucessivamente de nomes para João Pinheiro e Congo Fino. Sua área geográfica hoje pertence ao município de Conceição da Barra de Minas, emancipado de São João del-Rei em 1962.

[2] Originalmente edificada na segunda metade setecentista, provisão de 1772. No ano de 1900, em razão das dimensões da capela primitiva não atenderem adequadamente aos fiéis e pelo mal estado de conservação, foi profundamente modificada, dando lugar à edificação atual.

[3] Atual matadouro: ficava na entrada do atual bairro São Judas Tadeu, junto ao Córrego da Tabatinga, próximo à saída dos trens rumo a Antônio Carlos. Foi transferido para o bairro Matosinhos, em 1910.

[4] Briguente, ou Brighentti, referência a uma família de migrantes italianos; antropônimo aplicado a uma parte do núcleo colonial de São João del-Rei: Parada do Briguentti ou Colônia do Brighentti. O costume dos piqueniques era muito usual na cidade, desde o final do século XIX e seguiu até meados do seguinte, rareando aos poucos nas décadas seguintes. Era buscado o contato com a natureza em locais aprazíveis, havendo comes e bebes, música e confraternização. Eram especialmente célebres os piqueniques na Casa da Pedra, nas duas serras (Lenheiro e São José) nas Gameleiras (Bairro Tijuco) e no Alto do Senhor dos Montes.

[5] Elementos lúdicos característicos do chamado “entrudo”, que contemplava também o arremesso de farinha e água nos foliões do momo.

[6] Uma antiga tradição da cultura popular orienta a queimar as palhas do domingo de ramos em casos de tempestades para abrandá-las ou  nas ocorrências de assombrações domésticas para pacificar e proteger o lar.

[7] Carne verde: designação então usada para se referir à carne fresca.

[8] Cavalhadas: auto tradicional, de origem ibérica, cujos participantes se apresentam montados a cavalo, divididos em dois partidos: os mouros (trajados de vermelho) e os cristãos (vestidos de azul). Entre embaixadas e simulacros de batalhas, desenvolvem ricas coreografias. Foi de uso muito arraigado em Minas Gerais, sobrevivendo em poucas localidades. Origens remotas evocam as justas, as cruzadas e as novelas primitivas do território lusitano.  

* Revisão: 15/01/2024

Matadouro

 Ulisses Passarelli


(Ofereço com grata admiração a José Cláudio Henriques e José do Carmo Silva,  in memorian a José Cândido de Salles e a Aluízio dos Santos) [1]

"Açougue no Mercado – José Francisco Moura convida ao publico desta cidade, para visitar o seu estabelecimento. Sendo fazendeiro, pode fornecer gado de 1ª qualidade". [2]

  

            Na vizinha cidade de Tiradentes ainda existe, inativa e um tanto abandonada, a original construção de pedras, coberta de telhas antigas, que serviu de abatedouro de reses, na Rua Custódio Gomes, perto da rodoviária. Informa Dora Nascimento, que a construção é de 1831 e foi tombada pelo município, art..4º, Ato das Disposições Transitórias, Lei Orgânica de 1990. No citado texto a autora clamava por uma boa utilização daquele espaço.

            Em abril / 2003, o local estava cheio de lixo; o telhado, desabando ao centro; uma intervenção descaracterizadora com vigas de concreto armado fora feita. No todo estava desleixado. Ainda se podia admirar: a engenhoca tocada a manivela, cheia de engrenagens, que puxava a rês abatida, por meio de um correntão; as admiráveis colunas e arcos de pedra; o desgaste numa das pedras do piso, causado pelo repetitivo movimento de amolar facas, raspando o seu gume, gesto que os trabalhadores locais fizeram incontáveis vezes. O local, se bem tratado, poderia ser uma atração turística a mais para aquela cidade.

            Em São João del-Rei já não há esta possibilidade, revela a história, contada por pesquisadores e pelos jornais desta cidade.

            Geraldo Guimarães coligiu informações sobre o comércio de carne nos setecentos. Nos seus dizeres, O comércio de carne bovina não foi sempre exercido livremente, sendo, pelo menos em determinada época, exclusividade de uma só pessoa. Em 1718, é encontrado o seguinte registro “José Madeira arremata por 500 oitavas de ouro os cortes de gado, devendo suprir de boa carne os açougues da vila. Obrigava-se ‘a ter de reserva parte das melhores para distribuir aos ministros da justiça, oficiais da Câmara e mais nobreza’(Cintra, 1982, p.118).

            Sebastião Cintra informou que a 08 de outubro de 1727, José Gomes Branquinho tira licença, no Senado da Câmara, para – “usar de seu corte de gado”; a 10 de janeiro de 1728, Apresentando o fiador Sebastião Ferreira Leitão, futuro padrinho de batismo do Alferes Tiradentes, Antônio João Palhares arremata por 892 oitavas de ouro a renda do subsídio das cabeças de gado; no ano seguinte, a 13 de janeiro o novo arrematante foi Francisco de Mendonça e Sá, por 880 oitavas, exigindo o Juiz Ordinário da ocasião, José Matol, que os três pagamentos se fizessem em ouro limpo; em 21/07/1740 a Câmara trata em vereança do problema da carne – ‘pois os marchantes da vila haviam feito entre si e assinado um termo de não venderem carne fiada ao povo. Parece que o assunto teve certa seriedade e repercussão indo dois marchantes presos por não acatarem as deliberações dos vereadores. A Câmara porém voltou atrás e os mandou soltar a 27 daquele mesmo mês e ano. A 9 de dezembro de 1741, a Câmara firma termo de quitação a favor de Antônio Pereira da Silva, que comprovou ter pago 1311 oitavas de ouro, na qualidade de arrematante da renda do subsídio das cabeças de gado ; em 1748 o arremate esteve a cargo de Custódio Pereira Brandão, por 1.123 oitavas, a 27 de janeiro; em 1749 o arrematante foi Domingos Leitão Coelho, a 26 de janeiro, a um valor de mil oitavas de ouro; 13 de novembro de 1808, “Atendendo a precisão que há de se fazer um curral ou coberta que sirva para uso e matança das reses”- a Câmara determina a lavratura de edital para arrematação da referida obra;  a 05 de julho de 1820, a Câmara de São João del-Rei em vereança do problema da falta de carne verde, além do alto preço que alcançou “visto que o gado tem subido o dobro do preço porque dantes se vendia”(...) resolveu, ouvidos os marchantes, “se fizesse público por pregão lavrado por edital para qualquer pessoa que der lanço ao preço menor de novecentos e sessenta réis por libra, que é o preço que declaram os mesmos marchantes poder vender para salvar o seu principal e despesas, enquanto durar a carestia de gado.”; e a 25 de setembro de 1826 a Câmara convida por edital, clero, nobreza e povo para o estudo, em Câmara Geral, do problema da grande falta de carne na Vila de São João del-Rei. Tais arremates exigiam fiadores, cujos nomes o autor registra.

            Também de interesse as informações levantadas por Fábio Nelson Guimarães: a 17 de julho de 1869, a Câmara, tomando medidas de higiene em prol da cidade, determina que o local para enterramento de animais mortos seja as vargens do Quicumbi e do Faria; a 12 de setembro de 1885, uma determinação dos edis, por proposta do vereador Emerenciano Fioravantti, obriga que os marchantes não lancem no córrego os detritos das reses abatidas.

Comenta-se que matavam gado por detrás da Capela do Bonfim, havendo então o costume de fincar os crânios das reses abatidas nas pontas dos mourões para afugentar mau-olhado e de tantas que haviam, aquele lugar ganhou o nome de “Arraial das Cabeças” (Rua Antônio de Abreu). Segundo a oralidade não se confirmaria assim, a especulação desse nome ter surgido por causa de cabeças humanas decapitadas, de condenados ao cadafalso naquele Morro da Forca, que seriam jogadas pelo declive afora, à fome dos urubus. Por outro lado pode o curioso topônimo ser uma lembrança dos enterramentos determinados pela Câmara na Vargem do Faria que é contígua ao Arraial das Cabeças quase se confundindo.

No ano de 1877, Francisco Ferreira da Silva, arrematante do imposto sobre o gado, prevenia num jornal a todas as pessoas que se achavam em débito, que pagassem para evitar medidas legais de cobrança [3].

Outros sinais da atividade pastoril são o antigo nome do trecho inicial da Rua Mal. Deodoro (entre a Praça Dr. Severiano de Resende e os Quatro Cantos), que se chamava Rua do Curral (no séc. XVIII) e o Curral do Conselho, que ficava até 1893 onde hoje está o fórum, informa Antônio Gaio Sobrinho. Notórias também nas suas altas platibandas, uma série de cabeças bovinas, simbolizando a riqueza municipal da época da sua construção, como também se refere o mesmo autor ao prédio da prefeitura.

Houve um matadouro antigo que ficava no Pau d’Angá (atual Rua Carvalho Resende, Centro), defrontando a ladeira e dando fundos para a Praia, esclarece Fábio Nelson Guimarães. É possível que seja este o matadouro citado no edital de 1808 da Câmara.

Mais tarde, no século XIX,  foi transferido para o Matola, onde anos depois viu surgir à sua frente a  estação ferroviária e oficinas da E.F.O.M. (Estrada de Ferro Oeste de Minas). O autor supra diz sobre ele: vizinho ao córrego da Tabatinga, nas imediações da antiga caieira dos Mourões. Não é conhecida a localização exata deste matadouro, mas por esta referência, aliada às informações orais de antigos moradores das cercanias, que ainda alcançaram uns velhos currais abandonados e em ruínas na entrada do atual Bairro São Judas Tadeu, se pode localizar aproximadamente junto ao quarteirão formado pelas ruas Professor Mário Mourão Filho, Henrique Benfenatti e Antônio Lombelo Rocha (“Mestiço”), junto ao Córrego da Tabatinga, no qual lançavam o sangue e demais detritos da  matança.

As condições sanitárias não eram das melhores. A imprensa reclamava [4]Chama-se a attenção do sr. fiscal para as rezes tisicas que ultimamente se tem abatido no matadouro desta cidade. Olho vivo senhor fiscal: o zé-povinho já anda cansado de tanto sofrer.

Em 1898 o matadouro foi reformado com o concerto das porteiras e cimentação do pátio, obra do prefeito Dr. J.D. Leite de Castro, que custou aos cofres públicos 96$520 (noventa e seis mil e quinhentos e vinte réis), conforme lançamento no relatório de contas apresentado à Câmara Municipal pelo dito prefeito [5].

Certa feita, malfeitores juiz-foranos, de passagem pela cidade, planejaram roubos causando um black-out. Para provocar o curto-circuito, jogaram na fiação elétrica do matadouro do Matola uma barra de ferro e assim a noite de 11 para 12 de março de 1902 foi de escuridão para os são-joanenses [6]Em frente ao Matadouro, individuos de mau gosto, depois que a luz estava accesa, atiraram sobre os fios, fechando o circuito entre as duas phases, um pedaço de limalha de tôrno, das officinas da Oeste, de mais de metro de comprimento ...

            Bem antes disso porém, a municipalidade planejara transferir o matadouro do Matola para Matosinhos. O assunto causou grande polêmica. Depois de muita discussão foi aprovada a transferência por proposta do vereador Augusto Müller [7], ainda no século XIX. Porém tal decisão emperrou e de fato só foi efetivada em 1910 [8]o Major Antonio Gonçalvez Coelho, Presidente da Camara em exercicio, pretende estabelecer um novo matadouro, nos suburbios d’esta cidade, em terreno excellente, junto á linha da E. F. Oeste, fasendo o transporte de carne pela estrada de ferro até a estação. O terreno tem espaço para pastagens de gado que se destina á matança.

O mesmo jornal noticiou ainda [9]Já foram iniciados os serviços do novo Matadouro modelo, que a patriotica Camara Municipal pretende construir. É um melhoramento que se fasia sentir entre nós, que salientamos, pelos muitos beneficios que proporcionará á população desta cidade. Com o matadouro modelo o serviço de matança, de accordo com o plano e planta das obras obedecerá aos principios exigidos pela hygiene, e, tambem com esse melhoramento, a Camara regularisará o seu serviço de arrecadação desse imposto, o que até aqui, não tem conseguido fazer. O local escolhido pelo Presidente da Camara é o que melhor adapte-se aos interesses dos marchantes e da Camara. Ainda em tempo, esclareça-se que marchantes eram os boiadeiros que traziam o gado de corte.

            A mudança não ocorreu sem polêmica [10]confirma-se a revoltante noticia da transferencia do actual matadouro para a parte de cima das pontes de Mattosinhos sobre o Agua Limpa (...) ponto ainda mais prejudicial do que aquelle em que actualmente está estabelecido (...) as emanações infusas irão produzir o descredito e o abandono de um arrabalde até agora procurado por aquelles que precisam de ar puro. É que Matosinhos, cheio de verde das chácaras, pomares e jardins, além da água pura que tinha, era procurado por doentes para repouso e tratamento. Daí a razão deste protesto.

Feita a mudança o local onde antes funcionara ficou conhecido como “Rua do Matadouro Velho”.

Também a imprensa [11] numa crônica retrospectiva, que evoca o período anterior à chegada da ferrovia (1881), escreveu: Nesse tempo ia-se [ a Matosinhos ] pelo Matola, passava-se perto do Matadouro Velho em plena capoeira, (...) . Em 1923 a Rua do Matadouro Velho ganhou a designação atual de Rua Padre Sacramento, assegura Fábio Nelson Guimarães. Contudo, um anúncio do ano seguinte mostra (como sói acontecer), que o nome anterior prosseguiu em uso [12]Vendem-se 2 chalets, sendo um nesta cidade á rua Matadouro Velho com jardins na frente, construcção nova, e outro em Aguas Santas.

            Funcionou o matadouro muitos anos em Matosinhos, na confluência das ruas Elói Reis e Amaral Gurgel, junto ao pontilhão do trem. Tinha técnicas primitivas e precária higiene, o que aliás, vinha de longo tempo. A carne era transportada no carroção, que ficou assim registrado [13]Há dias que a carne destinada ao consumo da população está sendo transportada em uma carroça de lixo. Vem immunda, segundo informou-nos um dos açougueiros. Immunda diz elle e prejudicial á saude publica dizemos nós.

Outra fonte [14]Um carroção immundo, pesado, asqueroso, parecendo os vehiculos usados pelos ciganos, todos os dias, envolto numa densa nuvem de poeira, puxado por duas parelhas de bestas magras, seguido de uma canzoada esqueletica e faminta, offerece à nossa terra um espectaculo patusco. E numa algazarra dos condutores, num bimbalhar infernal de campainha e guizos, num rangido de eixos e correntes, lá vem o carroção, numa corrida desenfreada, trazendo a carne que teremos de comer no dia seguinte.

            Com tantas reclamações adquiriu-se um automóvel utilitário para transporte da carne verde na década de vinte. Após conviver um tempo com o carroção, acabou por substituí-lo completamente.

            Em 1929 aparece o nome do responsável pelo estabelecimento, Francisco Ribeiro da Silva, sob o cargo de Encarregado. Dois anos depois ainda era o chefe local, como Administrador.

            Matosinhos assistia desde então a profundas mudanças, com uma onda de demolições e surgimento de novos prédios. Em 1932 cogitava-se urbanizar o bairro afetando a disposição bucólica que tanto lhe dera celebridade. Um hebdomadário comentou [15]remodelar o quieto suburbio, o pittoresco arrabalde das jaboticabas famosas, deitar abaixo aquelles muros enegrecidos e aquelle aggregado de casinhas baixas, seria roubar o encanto natural que fez daquelle sitio o logar preferido (...) nova remodelação de Mattosinhos que, segundo foi dito, passaria por uma radical transformação que lhe haveria de alinhar as ruas em torno do grande jardim plantado ao centro. Etc. O cunho progressista não condizia com o atrasado matadouro.

            Em 1936, a lei municipal nº 9, de 10 de dezembro, autorizava o prefeito a por em concorrência pública a exploração dos serviços de transporte de carne e do lixo [16].

            Idealizou-se abrir um grande abatedouro-frigorífico. A empresa MONTOR (Montreal Organização Industrial e Economia S/A), apresentou a respeito um notável levantamento da economia da cidade, as perspectivas de crescimento, estudo mercadológico, social e de matéria-prima, visando o abate e o beneficiamento em larga escala, para a produção de carne verde, carne resfriada, charque, farinha de osso, farinha de sangue, sebo industrial, couro e outros subprodutos com capacidade da ordem de 15.000 cabeças bovinas e 5.000 cabeças suínas por ano  [17]. O grande projeto não foi adiante.

          Passou então por sucessivas reformas. Uma delas em 1977, na administração Lourival Gonçalves de Andrade, ainda está marcada numa placa comemorativa afixada na parede externa frontal, dando inclusive o nome do prédio: “Matadouro Municipal João Mansur”.

            Nova reforma ocorreu na administração do Dr. Gerardo de Castro Cid Valério, com a compra de novos equipamentos e planos de arrendamento para uma empresa especializada de Juiz de Fora [18].

            Ainda houve outra melhoria, desta vez pelo prefeito Rômulo Viegas [19].

            Essas reformas foram importantes e ajudaram, mas não resolveram a raiz do problema. O antiquado estabelecimento era ainda alvo de críticas e protestos [20]o matadouro municipal já não pode continuar no mesmo local. Tornou-se obsoleto e está prejudicando dezenas de residências e casas comerciais.

            Para apurar denúncias de irregularidades no seu funcionamento, constituiu-se uma comissão que estudou solucionar o caso com as opções de interdição, restauração e ainda construção de um novo prédio [21].

            De madrugada os berros dos animais infernizavam os moradores das cercanias, e ainda, o ir e vir de caminhões, o mau cheiro, a proliferação de moscas, cães vadios e urubus. O sangue era derramado no leito do “Água Limpa”. Além disso a má higiene dos processos de beneficiamento da carne punha em risco a saúde pública.  Os moradores iniciaram um grande movimento popular para retirá-lo dali, encabeçados pelo sr. José do Carmo Silva (justiça lhe seja feita), além do esforço de muitos outros cidadãos nesta árdua tarefa.

Enfim, numa feliz iniciativa foi dada uma ordem judicial pela MM. sra. Juíza de Direito da 2º Vara Cível de São João del-Rei, dra. Sônia Marlene Rocha Duarte, na audiência pública de 20/08/1998. Dava prazo para fechamento do matadouro até 31 de dezembro daquele ano e exigia acertadamente vigorosas medidas de higiene, como condição para continuar funcionando até o fim daquele prazo [22].

Nessa ocasião já se idealizava a construção de uma nova unidade. A APROCARNE (Associação de Proprietários de Casas de Carnes e Açougues de São João del-Rei), negociava um terreno, junto à BR-494, na Colônia do Bengo, bem defronte a Igreja de Santo Antônio, com destino a tal finalidade [23].

Por esse tempo começara no Córrego, em Santa Cruz de Minas, a construção de outro abatedouro, o “Frigorífico Santa Cruz”, de propriedade do empresário Nelson Resende (substituía um anterior naquele município, também precário, que situava-se à confluência das ruas João Batista da Silva e Sete de Setembro e que igualmente foi alvo de protestos populares). Esse frigorífico ficou pronto primeiro e por um tempo sediou todo o abate. Grande e moderno, possui 3 currais: 1 para chegada, 1 de inspeção veterinária e 1 de abate, onde se empregará 15 a 20 funcionários; possuirá 2 caminhões baús, técnicos para distribuição do produto [24]. A mesma fonte informa que a inauguração estava marcada para o dia 23 de janeiro de 1999, atuando o estabelecimento com asseio e modernidade. Hoje sob nova administração, chama-se “Frigovita” e conserva a qualidade desejada em seus produtos, que incluem também embutidos e defumados.

            O matadouro de Matosinhos persistiu ainda aberto, apesar de esgotado o prazo determinado para o fechamento. No dia dez do mês seguinte à data limite, a já citada autoridade judicial, dava ordem para o efetivo encerramento das atividades do velho matadouro [25].

            A inauguração do matadouro da Colônia do Bengo, intitulado “Frigorífico São João del-Rei”, deu-se no dia 18 de agosto de 1999, com missa campestre. A imprensa destacou as técnicas modernas e a higiene total do estabelecimento, condizentes com as exigências legais [26]. Estas condições foram satisfeitas com base em rigorosos estudos prévios.

            Desde então o prédio público de Matosinhos encontra-se sem uso ideal e aguarda obras. Internamente iniciou-se a construção de salas que se destinariam a consultas de saúde mas a obra foi paralisada. Cogitou-se dividir o terreno entre várias entidades culturais mas não deu certo. Eventualmente seu terreno serviu para guardar animais apreendidos. Do lado externo junto ao muro voltado para a Rua Amaral Gurgel, funciona desde 1995 a gráfica da ASPD (Associação dos Portadores de Deficiência).

O destino do matadouro gerou muita polêmica e discussões políticas, refletindo-se no boca a boca das ruas, na imprensa falada e escrita locais. Surgiram várias propostas de utilização, inclusive a de sediar uma sub-prefeitura, ou de espaço cultural, etc. O historiador José Cláudio Henriques defende, que a construção de um novo prédio, poderia ter como fachada uma réplica do frontispício do antigo Pavilhão do Bicentenário, monumento do bairro, demolido em 1938, ocupando-se o interior com atividades úteis ao bairro-cidade (esta ideia é um dos vértices do projeto chamado “Triângulo Histórico-Monumental de Matosinhos” que visa também construir um réplica da igreja do Sr. Bom Jesus de Matosinhos lastimavelmente demolida em 1970 e restaurar a estação Ferroviária de Chagas Dória)

O “Jornal de Minas” traz uma foto mostrando rapazes se divertindo no pátio da construção que servira por anos ao abate e diz: Enquanto não se decide o que fazer com o ex-matadouro municipal, jovens aproveitam e fazem do local, área para praticar o futvôlei, com direito a platéia[27].

            Também “O Grande Matosinhos” estampa um retrato no editorial e na legenda clama para aproveitar-se o matadouro municipal para a construção de um pronto socorro [28].

            Em 04/05/2003 foi nele realizado um leilão de gado em prol da Festa do Divino de Matosinhos, organizado pelos festeiros.

            Hoje nele funciona a Defesa Civil e se cogitou fazer um núcleo de saúde mental. Pelo visto tal projeto anda emperrado. Air de Souza Resende em sua coluna “Umas e Outras Francamente”, comentou a notícia [29]Fala-se, que é pensamento do prefeito, vender parte dos terrenos do antigo Matadouro Municipal, localizado no início da rua Amaral Gurgel, no Bairro de Matosinhos. O local foi entregue à Secretaria Municipal de Saúde para a construção do CAPS (Centro de Apoio Psico-Social), destinado a tratamento de doentes mentais e construção de um pronto socorro. O CAPS foi para um sítio alugado na Colônia do Marçal e o pronto socorro ficará como mais uma vã promessa, que serviu para ludibriar eleitores em vésperas de campanhas eleitorais.

Sua história pelo visto, ainda não acabou e terá decerto, páginas futuras. Oxalá sejam boas...

 

Referências Bibliográficas

BARBOSA, José Victor, (Org.). A actualidade sanjoannense: ensaios estatisticos sobre o municipio de São    João d’El-Rey. São João del-Rei: Commercial, 1929.

CINTRA, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João del-Rei. 2.ed. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,1982. 2v.

CINTRA, Sebastião de Oliveira. Nomenclatura de Ruas de São João del-Rei. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, n.6, 1988.

GAIO SOBRINHO, Antônio. Visita à Colonial Cidade de São João del-Rei. S.J. del-Rei: FUNREI, 2001

GUIMARÃES, Fábio Nelson. Ruas de São João del-Rei. São João del-Rei: FAPEC, 1994.

GUIMARÃES, Geraldo. São João del-Rei: século XVIII – história sumária. São João del-Rei: [s.n.], 1996.

JORNAIS da cidade de São João del-Rei (diversos - referenciados nas notas de roda-pé).

NASCIMENTO, Dora. Matadouro Público. Outras Palavras. Tiradentes,  nº3, set./2001.

SINOPSE ESTATÍSTICA DE S. JOÃO D’EL-REY. São João del-Rei: Casa Assis, 1931. Edição Comemorativa do cinquentenário da EFOM.

 

Veículo usado outrora no transporte de carne em São João del-Rei.
Autor e data não identificados. Fonte: Foto 1000Ton.



[1] - Texto publicado originalmente em: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, n. 11, 2005.

[2]A Opinião, n.92, 11/06/1910

[3] - Arauto de Minas, n.12, 26/05/1877.

[4] - Tribuna do Povo, n.6, 16/06/1882.

[5] - S. João d’El-Rey, n.2, 18/02/1899 e ss.

[6] - O Combate, n.157, 12/03/1902.

[7] - Arauto de Minas, n.12, 05/06/1887.

[8] - A Opinião, n.103, 20/07/1910.

[9] - A Opinião, n.3, 03/08/1910.

[10] - O Repórter, n.142, 31/07/1910.

[11] - O Dia, n.65, 23/05/1912.

[12] - A Tribuna n.548, 01/06/1924.

[13] - Reforma, n.2, 13/01/1916.

[14] - A Nota, n.14, 18/05/1917.

[15] - Folha Nova, n.10, 03/03/1932.

[16] - Prefeitura Municipal – Leis & Resoluções – 1936-1937. (Coletânea de recortes de jornais da Biblioteca Municipal de São João del-Rei).

[17] - A Comunidade, n.21, abril/1970.

[18] - Jornal de São João del-Rey, n.25, 22-28/02/1986.

[19] - Nossa Terra, s.n., dez./1991. 

[20] - Gazeta de Matozinhos, n.2, mar./1993

[21] - ACI del-Rei, n.16, abr./1996.

[22] - Gazeta de São João del-Rei, n.8, 05/09/1998 e Tribuna Sanjoanense, n.944, 04/08/1998.

[23] - Tribuna Sanjoanense, n.977, 27/04/1999.

[24] - Tribuna Sanjoanense, n.966, 12/01/1999.

[25] - Gazeta de São João del-Rei. n.25, 09/01/1999 e n.30, 13/02/1999.

[26] - Tribuna Sanjoanense, n.989, 03/08/1999 e Gazeta de São João del-Rei, n.52, 17/07/1999.

[27] - Jornal de Minas, n.19, maio/2003.

[28] - O Grande Matosinhos,  n.46, ag./2003.

[29] - O Grande Matosinhos, n.49, dez./2003.