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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Pavilhão do Bicentenário


O “Pavilhão do Bicentenário” (dito Pavilhão de Matosinhos, alcunhado Capitólio ou Castelo) foi construído em 1913 em imponente estilo mourisco, no local onde hoje se situa o SENAI, na Praça do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Foi feito em comemoração aos duzentos anos de elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à categoria de vila, com o nome de São João del-Rei. Objetivava sediar uma exposição permanente de nossa atividade industrial e comercial. As obras iniciaram comentando-se que [1]:

"No pittoresco arrabalde de Mattosinhos, começaram no dia 13 do andante, os trabalhos da Exposição, que a commissão central, composta dos srs. Carlos Guedes, Alberto Bastos e João Viegas, pretende apresentar aos nossos visitantes, por occasião do bi-centenário de S. João d’El-Rey." (Etc.)

O prédio tinha arquitetura arrojada para a época e trouxe dificuldades técnicas [2]: "os trabalhadores do pavilhão de Mattozinhos queixam-se da falta de um feitor ou mestre que conheça o serviço."

Na inauguração houve grande festa a 14 de julho, atraindo enorme multidão e é claro, os políticos influentes na época [3]:

"A esphera da cupola foi então collocada pelo snr. Dr. Augusto Pestana, Director da E. F. Oeste, o qual subiu ao andaime até o ponto elevado a 25 metros do solo, em companhia do membro da Commissão, snr. Carlos Guedes (...) No momento da collocação da esphera subiram as girandolas de foguetes e a musica do 51 de Caçadores, gentilmente cedida pelo seu distincto commandante, Coronel Dr. Eduardo Socrates, executou um bellissimo dobrado."

Discursaram: Sebastião Sette (pelo povo), Odilon de Andrade (prefeito), Dr. Pestana (diretor da estrada de ferro), Augusto Viegas (Vice-presidente da Câmara Municipal), Carlos Guedes (pela comissão encarregada da construção) e o Cel. Severiano de Rezende.

Pavilhão de Matosinhos.
Foto: autor e data não identificados.

Mas como nem tudo são maravilhas, houve críticas. A construção foi considerada por demais dispendiosa e no mais, houve atraso no seu cronograma, não tendo ficado pronta a tempo do bicentenário, só sendo inaugurada no ano seguinte.

O mais sério contudo é que a construção ficou ociosa, com eventual uso provisório e indigno por sinal, como, ocupada por bancas de jogos de azar nas festas do bairro.

Em 1923 passou por melhorias que empolgaram. Mas o plano geral não parece ter ido adiante [4]:

"A nossa municipalidade levou a effeito os concertos necessarios no Pavilhão de Chagas Doria, onde foram fechadas todas as portas e limpas todas as suas dependencias. O grande predio apresenta agora garboso aspecto. Conforme já noticiamos, nele, dentre em breve, funccionarão, no pavimento superior, um laboratorio de analyses de terras e um mostruario de productos agricolas, servindo o rés do chão para deposito de machinas destinadas á lavoura, dependencias essas do Ministerio da Agricultura, ao qual será entregue, dentro em breve, aquelle palacio, que nos custou cento e vinte contos de réis, outróra abandonado e prestes a entrar em ruinas."

Ainda que em 1929 tenha sediado a escola Padre Sacramento, logo esta foi transferida para o Patronato. Passou a ser assim frequentada por mendigos, prostitutas, malandros, banqueiros de jogos. De acordo com informações bibliográficas era taxado de lugar propício à imoralidade e foi num ato de ignorância e ingerência demolido em 1938, a dinamite, segundo a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei (a estrutura era muito sólida, fundada sobre trilhos da linha férrea) e durante a administração do prefeito Antônio Viegas, segundo Antônio Gaio Sobrinho.

Imoral não era o lugar, mas sim o seu mal emprego e o ato destrutivo. Houvera ter-se corrigido aquelas mazelas, frutos do descaso do poder administrativo para com um bem público, que propiciou o seu abandono e teríamos ainda hoje o valioso monumento.

Não é pois correto afirmar que o pavilhão foi demolido para ali se construir o SENAI, pois este só foi inaugurado bem mais tarde, em 13/10/1952. Se fossem coetâneos, esta conceituada escola técnica que se vê na foto abaixo poderia ter ocupado o vasto e sólido prédio do pavilhão, se ele então ainda existisse...

Vista hodierna do local onde no passado se situou o pavilhão. 
Foto: Ulisses Passarelli, 12/01/2014. 

Referências Bibliográficas

GAIO SOBRINHO, Antônio. Sanjoanidades: um passeio histórico e turístico por São João del-Rei. São João del-Rei: A Voz do Lenheiro, 1996. 104p.il. p.12-14. 

PAVILHÃO de Matosinhos. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, n.1, 1973. p.3.

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli 



[1]- A Evolução, n. 6, 19/09/1913.
[2]- A Evolução, n. 23, 15/03/1914.
[3]- Reforma, n. 16, 18/07/1914.
[4]- A Tribuna, n. 471, 06/05/1923. 

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