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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 16 de maio de 2013

Mais um "causo" de pescador

Gaspar

      Diz que aconteceu aqui pras bandas de São João dos Queijos mesmo, beira-rio.
          Numa Semana Santa de muito tempo atrás, saíram uns pescadores rumo ao Rio das Mortes, beirando a linha do trenzinho do sertão, entremeio a Igreja do Taquaral (Sagrado Coração de Jesus) e o Pombal, no rumo da Colônia do José Teodoro. Imediações de um pesqueiro conhecido, perto de umas moitas de bambu.  
          Bem que foram alertados sobre a necessidade de recolhimento do período e no fundo sabiam, mas pensaram de não ser nada e não faltou a garrafa de pinga e boa alegria numa farra incontida.
           A noite chegou e armaram acampamento no barranco do rio. O fogo foi aceso para assar uma carne. Tempo bom, firme.
        Foi quando numa moita próxima começou algo a remexer e piar, tal como um pinto. Calaram-se e estranharam pois não estavam perto de casa nenhuma e decerto não haveria naquele ermo qualquer galinha com ninhada, quem dirá à noite. Persistiu o piado. Devagar se tornou mais nítido até que um pintinho novo saiu do mato, muito molhado, como se tivesse caído temporal e foi chegando ao fogo para aquecer. Os pescadores estavam cismadíssimos, em silêncio sepulcral. A ave sacudiu as penas para secar, piando sem parar, desaninhado como estava. Esticou uma perninha, depois outra... Um grito forte rompeu então o silêncio do mato, vindo ninguém sabe de onde nem de quem: “ôh, Gaspar!”, e o pintinho respondeu com vozeirão humano: “oi!!!”. 
          Os pescadores desesperados correram em debandada e nunca mais desrespeitaram a Semana Santa.

1- Rio das Mortes em São João del-Rei, na região descrita na narrativa do Gaspar. 09/07/2013. 


2- O mesmo local em época chuvosa. 28/12/2015. 

3- Pesqueiro do Taquaral, onde se narra ter acontecido esta estória:
à direita o Rio das Mortes, à esquerda a estrada do Pombal, outrora,
leito do "Trem do Sertão", linha férrea da Estrada de Ferro Oeste de Minas
(EFOM). 01/11/2016.

Notas e Créditos


* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: 1 e 2 - Iago C.S. Passarelli; 3- Ulisses Passarelli
*** Informante: Aluísio dos Santos, São João del-Rei, 1996. 
**** Obs.: "São João dos Queijos" - alcunha dada à cidade de São João del-Rei, dada a quantidade e qualidade de sua produção de laticínio.

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