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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 25 de agosto de 2013

A Rezinga dos Mouros

Mouros brincam com as crianças no campo de futebol de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, 
enquanto o congo marcha pela rua fronteiriça. 

Mouro e Cercadores em luta pela coroa real. 

No distrito são-joanense de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, ainda se conserva uma antiga tradição de rezinga entre dois personagens: mouros e cercadores, evocação de uma velha peleja religiosa. Os personagens acompanham o congo daquela vila e em geral os mouros cuidam de brincar com as crianças do lugar, que os perseguem espontaneamente e com muita alegria pelas ruas com uma série de insultos, até que o mouro corra atrás delas, que saem em polvorosa e aos risos. A brincadeira porém não é agressiva aos pequenos, que em grande algazarra sempre tomam a iniciativa de reiniciá-la.

Mas na hora do reinado a função do mouro é outra: tirar a coroa da rainha. Mas os cercadores, trajados de azul a defendem. 

A luta singular já existiu também no distrito de São Gonçalo do Amarante, onde o congo sobrevive mas os mouros não.

Da forma como acontece na vila são-joanense não encontrei registro na literatura sobre folclore. Mas o tema da tomada de coroas ou de rainhas nos congados foi referenciado para outros locais. No sul mineiro, na cidade de São Sebastião do Paraíso, Maria José de Souza recolheu uma informação de pesquisa, da qual transcrevo abaixo um fragmento:

"Antigamente eles protegiam as Rainhas, porque senão outros ternos podiam roubar as Rainhas. Todo fardado, com espada, eles trançavam a espada quando agente puxava o Rei Congo e a Rainha" (etc., p.118)

No século XIX Melo Morais Filho viu as animadas festas de São Benedito no sertão sergipano, cidade de Lagarto, onde o congo em procissão, dividido em duas alas, vinha em luta de espadas pelos dançantes, no afã de tomar a coroa real:

"Em trânsito , seguindo o andor , uma luta travava-se entre as duas alas de negros, que disputavam, batendo-se, a coroa da que ocupava o centro, e a quem chamavam a Rainha Perpétua. E, degladiando-se com espadas de ferro, dando viravoltas e cadenciando os flancos, os Congos adiantavam-se no préstito, cantando, ao calor da peleja, no renhido combate". (etc)

A tradição dos mouros é bastante conhecida no folclore, com muitos exemplos desde o nordeste ao sul brasileiro, mas em Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno se apresentam de forma singular e felizmente, bem preservada.

Para saber mais a respeito leia:  Mouros & Cercadores


Referências Bibliográficas

MORAIS FILHO, Melo. Festas e Tradições Populares do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, A Procissão de S.Benedito no Lagarto, p.121-131.

SOUZA, Maria José de, Professora Tita. O Reinado dos Congos: religiosidade popular, tradição e sobrevivência do Sul de Minas. Revista da Comissão Mineira de Folclore, Belo Horizonte, n.23, ag.2002, p.97-123.

Notas e Créditos

Texto e fotos (1998): Ulisses Passarelli

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