Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 27 de outubro de 2013

Na minha terra se fala assim - parte 1

Cada região tem sua linguagem própria independente do idioma e do dialeto ali falado. Esta característica mais intrínseca é fruto da mescla cultural de diferentes etnias e de diversas influências, algumas recentes advindas dos meios de comunicação e não raro tem caráter transitório como o caso da gírias que podem estar ligadas a uma faixa etária; outras, são frutos das correntes migratórias e influências da mídia, de personagens artísticos. 

São João del-Rei com sua tradição tricentenária não poderia ser diferente. O jeito mineiro de falar pulsa aqui e se irradia em derredor. 

Natural é que algumas expressões e vocábulos sejam conhecidos noutras regiões e eventualmente já tenham sido dicionarizados. Isto não verifiquei. Mas seja como for são palavras e falas inusitadas que dão uma cor bem local à linguagem popular e faz parte sim de sua cultura. Algumas são mais raras, outras nem tanto. Noutras se nota nitidamente a influência do meio rural. 

Não se planeja o estudo das origens de cada palavra ou expressão. É tão somente uma mera listagem, com a explicação do significado local. Coletânea. Como a lista é vastíssima, será exposta dividida em partes (volumes), excluídos os provérbios (ditados), tema para outra série de postagens. 
* * *
Alto - bêbado. "Bebeu cachaça e ficou alto."

Animal - indivíduo abrutalhado, estúpido. 

Apanhar tenência - adquirir esperteza, juízo, malícia no trato com outras pessoas.

Barra (da chuva, do dia, da geada) - sinal metereológico, de cor destacada, na linha do horizonte.

Bicho carpinteiro - agitação, hiperatividade. "Quieto menino, parece que tem bicho carpinteiro." 

Blá-blá-blá - falação, falatório, conversa inútil e excessiva. 

Bocó - o mesmo que "boca aberta". Idiota, palerma, imbecil. 

Brega - fora da moda, descomposto, de mau gosto. 

Burraldo - "burro", sem inteligência. 

Buta - amargo. "Esse café é uma buta". Alusão a uma da qual se faz um chá amargoso. 

Caco - Pedaço de um objeto quebrado. Pessoa enfraquecida, com mau estado de saúde, "caquinho". "Fulano está um caco". 

Cambada - grupo de pessoas sem valor; gente ruim. Corja. 

Canhão - mulher muito feia.

Cara de pau - pessoa sem brio, descarada, que não tem vergonha dos maus atos, que não respeita limites do convívio social. 

Cavaquista - brigão, encrenqueiro, causador de tumultos. 

Chapa - radiografia. “Batê um chapa do juêio (joelho)”.

Chora, Dodô! - expressão para indicar choro por manha, sem motivo real.

Chuchar a onça com vara curta - provocar um pessoa nervosa sem qualquer cautela.

Chumbado- "mamado", bêbado. 

Coça - sova, surra.

Comendo selado - Se alimentar em demasia.

Comer até sair pro olhoSe alimentar em demasia.

Comer pra cachorroSe alimentar em demasia.

Comida de sal - o alimento diário do almoço e janta, feito no fogão.

Dar corda - deixar um situação correr ao natural, sem intervenção. 

De mão cheia - indicativo de totalidade, completo, muito bom. "Pedreiro de mão cheia" (excelente profissional) - tem como antônimo "pedreiro de meia colher"

Dedar - dedurar, entregar o erro de alguém, denunciar, apontar o dedo indicador para revelar um culpado. 

Dedo duro - pessoa que tem o hábito de dedar, fazedor de denúncias. 

Dês - desde. “Dêsdentão” (Desde então).

Desacossoar - desanimar. “Fiquei disacussuado”.

Desandar - atrapalhar. 

Desfeitear - fazer pouco caso, tratar com desdém. 

Desenchavido - sem graça, sem sabor, sem atitude. 

Despinguelado - muito rápido, correndo demais. “Desceu dispinguelado”Deus dá o frio conforme o cobertor.

Dinheirama - muito dinheiro. 

Encaroçado - empelotado, com caroço, grosseiro, de alta granulação.

Encorreiado - de consistência borrachóide, resistente como couro.

Engambelar - tampiar, iludir, prorrogar um resultado ou explicação. 

Escalofobético - fora da regra, imprevisível, esdrúxulo. 

Esconder no cu do cachorro - Ocultar onde ninguém pode achar.

Estar no cu do Zé Esteves - Estar em situação dificílima. Problema sem solução. 

Falsiô - Duvidou, faltou firmeza. 

Faniquito - Chilique, histerismo. 

Fazer meia-noite - dormir profundamente. 

Feijão sem bicho - pessoa muito boa, sem defeito aparentes.

Ficar pra semente - viver por um tempo excepcionalmente longo. 

Filhota - menina. “Essa é minha filhota”.

Gandula de padre - coroinha.

Ganzepo - indivíduo muito  magro e alto.

Garrafinha - sovina, usurário.

Grogue - "zuado", um tanto bêbado, zonzo. 

Impaliado - remediado, improvisado.

Impirriada - diz-se da galinha em estado de choco. Choca. Pessoa lerda. 

Inhaco - pedaço grande. “Tirou um inhaco de broa”.

Inzame - exame. “Fazê inzame”.

Jacu - sujeito idiota, imbecil, bobo. 

Largado - desligado das preocupações; relaxado. 

Lavar a pixôrra - se dar bem, ser beneficiado por...

Lenga-lenga - lentidão, conversa mole, assunto perdido, sem objetivo prático. 

Língua de bicheira (ou de matar bicheira) - diz-se de quem é intrigueiro demais. 

Língua de trapo - sujeito falador, prolixo, intrigueiro. 

Malhar - zombar, debochar. 

Mamado - bêbado. 

Manguaça - embriaguez. "Fulano está numa manguaça danada!"

Mexer os pauzinhos - dar um jeito. Resolver o problema usando de subterfúgios.

Naco - pedaço grande de alimento. "Pegou um naco de bolo".

No pau - "no pau da sucuriba". Em situação de perigo. Estar no pau, sob pressão, embaraçado.

Oito ou oitenta - expressão reveladora de extremismo, sem possibilidade de posição intermediária. 

Pão duro - sovina.

Pão - gíria _ homem muito bonito. “Ele é um pão!” Palavra em ocaso. 

Papo furado - conversa sem proveito. 

Passar batido - passar inadvertidamente, sem atenção. 

Pinel - doido, louco. 

Pintar e bordar - aprontar estrepolias. 

Pintor de rodapé - pessoa de estatura muito baixa.

Pistigrilo - raquítico, amofinado.

Pitimbado - inquizilado, azarado, atrapalhado.

Reminado - atrevido. “Minino riminado!”

Rolha de poço - pessoa muito gorda, obeso.

Safanão - tapa, surra, pancada. 

Sentar o bambu - bater. “Sentei o bambu nele!”

Sirigaita - Lambisgóia. Mulher impudica, oferecida, leviana. 

T’isconjuro! - te amaldiçôo, te esconjuro.

Teba - grande. "Um teba d'um cachorro correu atrás de mim."

Torete - "tora", grande, gorda. Pedaço considerável de uma alimento. 

Trabalheira - situação muito difícil. “Foi uma trabaiêra danada!”

Traia - traidor, sujeito imprevisível, mau caráter. 

Vira casaca - traidor, pessoa de posicionamento instável, que muda fácil de opinião. 

Virado - alterado, com personalidade modificada por uma circunstância. 

Volta do dia - Após o meio dia, quando o sol perde na aparência a posição vertical ganhando a inclinação para oeste, rumo ao poente. 

Zambeta - "Cambeta". Coxo, manco, que puxa de uma perna. 


Conversa de fim de tarde, na zona rural de São João del-Rei. 

Notas e Créditos

* Texto e fotografia: Ulisses Passarelli.

Nenhum comentário:

Postar um comentário