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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 2 de fevereiro de 2014

Nossa Senhora das Candeias

Dois de fevereiro. Hoje é dia de Nossa Senhora das Candeias, uma invocação pouco difundida em relação a outras expressões marianas. 

Informações indicam para uma origem espanhola, especificamente em Tenerife, nas Ilhas Canárias, no século XV, donde se difundiu para Portugal. A América recebeu e fixou esta devoção.

A origem do título se prende ao preceito judaico da purificação da mulher após o parto. Quando a Virgem Maria, quarenta dias depois de dar à luz a Jesus Cristo, apresentou-se ao Templo em Jerusalém e ofertou seus sacrifícios diante do sumo-sacerdote Simeão, este profetizou as glórias do Menino e as dores de angústia que Nossa Senhora enfrentaria (Lc. 2, 22-35).

Como o Messias foi então profetizado como a luz do mundo, surgiu a crença na iluminação, simbolizada neste dia, daí o nome do título mariano: candeia é um tipo rústico de objeto para iluminar, espécie de lampião. Considera-se em sinonímia outros títulos correlatos: Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora da Candelária, Nossa Senhora da Purificação e Nossa Senhora da Apresentação.

Era costume outrora marcar este dia como a data limite do ciclo festivo do Natal. Por isto a cultura caipira aceitava a folia de Reis e o presépio até esse tempo, segundo revelaram os estudos de Alceu Maynard Araújo. 

Pode-se a grosso modo dizer que na região das Vertentes as tradições acerca do festejo deste dia estão em ocaso. 

Notícias orais da região de Antônio Carlos e Bias Fortes, no limite cultural entre os Campos das Vertentes e a Zona da Mata de Minas Gerais, dão conta de que nos povoados rurais faziam procissões luminosas neste dia, passando pelas estradas rurais. Os sitiantes procuravam vestir-se de branco (sinal de pureza) e levar velas acesas. Luminárias de barro (tigelinhas com combustível e pavio) ficavam acesas sobre os batentes das janelas, evocando as ordens coloniais de iluminação por ocasião das grandes festas do reino. 

Caminho afora, pelos mourões e porteiras amarravam luminárias feitas de um gomo de bambu fechado nos extremos pelo próprio nó, onde, por um furo, era introduzido o azeite de mamona como combustível e a mecha de pavio para queimá-lo. Na região em questão são conhecidas por cambonas e em São João del-Rei, tuchos

Adiante da humilde procissão de roça seguia como abre-alas a bandeira com a efígie da santa ou a sua imagem numa charola enfeitada de papel colorido picotado e colado em sua estrutura e flores dos jardins dos lavradores. Ao longo do trajeto os devotos iam rezando um terço, cuja jaculatória, repetida a cada mistério, era a seguinte: “Valei-me Senhora das Candeia, que o sole (sol) abranda e a lua alumeia!” Na chegada da procissão armas de fogo davam salvas de tiro para o alto. 

Em São João del-Rei ainda há quem tenha o costume de levar velas à missa neste dia. Alguns pedem aos padres para benzê-las. As velas do dia de Nossa Senhora das Candeias são guardadas para o ano todo, para serem acesas em situações especiais, pois como se fossem amuletos poderosos, banem os males físicos e espirituais, como fortes tempestades, doenças, tentações e iluminam a cabeceira de um moribundo cuja vida dá sinais de brevidade. 

Nos terreiros de religiões de matriz africana, Nossa Senhora das Candeias é lembrada neste dia com toques festivos a Oxum e Iemanjá, orixás femininos das águas, com as quais se encontra sincretizada conforme a linha espiritual e região.



Referência bibliográfica

ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore  Nacional. 2.ed. São Paulo: Melhoramentos, 1964. 3v.
BÍBLIA SAGRADA. Novo Testamento. Evangelho de São Lucas, capítulo 2, versículos 22 a 40.


Referência na Web

Nossa Senhora da Luz. Wikipédia. (Acesso em 02/02/2014, 09:13 h)

Informantes

- Elvira Andrade de Salles, 1996 (Bias Fortes) 
- José Cândido de Salles, 1996 (Antônio Carlos)
- Rodrigo de Oliveira Lima, déc. 2000 (São João del-Rei)
- Otávio Félix Pereira da Silveira, déc. 2000 (São João del-Rei)


Notas e Créditos 

* Texto: Ulisses Passarelli 
** Leia também: PROCISSÃO DAS LUZES EM SÃO JOÃO DEL-REI

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