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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 11 de março de 2014

Tradições sobre o lobo

Lobo-guará ou simplesmente lobo ou guará, é um mamífero canídeo, Chrysocyon brachyurus, que não corresponde ao lobo do hemisfério norte. A combinação dos dois nomes é uma junção de influências do colonizador europeu que o assimilou à espécie do velho mundo e do indígena, que denotava sua cor avermelhada.

Animal típico do cerrado sul-americano, de hábitos crepusculares e noturnos, muitas vezes é vítima de atropelamento nas rodovias e de extermínio a tiro por parte de moradores da zona rural, sob o pretexto de supostos prejuízos que causaria na avicultura. Este tipo de pressão antrópica aliada à  destruição do habitat tem levado este mamífero ao triste quadro de ameaça de extinção.

Na natureza alimenta-se de pequenas caças e frutos da lobeira (Solanum lycocarpum, solanácea).

Lobeira.  
Em São João del-Rei é corrente a superstição que um pedacinho do couro deste animal conservado junto ao corpo da pessoa é um poderoso amuleto contra vários males. E ainda: as presas (dentes caninos) tem o mesmo efeito. Preso a uma bengala ou bastão de capitão de congado, confere-lhe especial firmeza. Um patuá de couro de lobo livra da picada de cobras, notadamente se contiver sublimato corrosivo, substância que creem seja capaz de afugentar qualquer serpente.

O lobo motiva uma expressão popular, que os pais aplicam aos filhos mais crescidos quando cometem alguma besteira: “parece filho de lobo: quanto mais velho, mais bobo...”

Quanto à mitologia acerca do lobisomem é assunto para outra postagem.

Como o lobo tem as patas dianteiras (“mãos”) mais curtas, é veloz na corrida de ladeira, daí dizer-se que "lobo de morro acima ninguém pega", acontecendo o contrário nas descidas, curiosa observação do homem do campo, quando cães domésticos perseguem o lobo.

A fêmea protegendo crias é muito temida pela ferocidade. Diz o povo que o filhote do cruzamento de cachorra de casa com lobo é muito procurado pois é tido como o melhor cão de guarda, ferocíssimo. 

Nas fábulas o lobo faz o papel de bruto, sempre enganado pela esperteza do mais fraco. Sua ferocidade nas narrativas populares não compensa a falta de inteligência. Neste aspecto vale a pena registrar uma variante da tradicional estória do lobo do cu queimado, esta informada em 07/07/2013 pelo sr. José Maria do Nascimento, natural da zona rural de Bias Fortes/MG, e aqui transcrita em suas palavras:

"O coelho estava amarrado para comer uma galinha gorda. Mas era mentira do coelho, porque eles queriam enfiar um ferro quente na bunda do coelho. Aí o coelho estava chorando. Chora daqui, chora dali... O lobo perguntou: 

_ ô coelho, quê que está chorando aí? Porque eu tenho que comer quatro galinhas gordas, eu não aguento... 

Aí o lobo...

_ então me amarra aí coelho, que eu vou comer! Isso pra mim é mole! 

Ele pegou as galinhas e comeu. Ele ficou lá amarrado. Chegou o dono das galinhas enfiou o ferro quente na bunda do lobo. O coelho tá lá no espigão: 

_ ô seu lobo do cu queimado! Ô seu lobo do cu queimado! (com voz debochada)

E o lobo lá com a bunda tudo queimada do ferro quente. Aí, o lobo falou: 

_ uai, mas o coelho pintou, fazer isto comigo! 

Mas o coelho toda vida é mais velhaco que o lobo..."



Notas e Créditos

* Texto e foto: Ulisses Passarelli

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