Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sexta-feira, 20 de junho de 2014

O queijo da onça

Mais uma fábula sobre a esperteza vencendo a força bruta

Numa ocasião, a onça passeava pela mata. Achou um queijo caído no chão. Acostumada a comer só carne, ficou olhando o queijo e pensando o que seria aquilo. 

Logo veio o macaco pulando a galharia da floresta e ao ver o queijo, de esperto que é, maquinou uma maneira de tomá-lo da onça. Puxou conversa

_ Ôh, comadre!
_ Oi, compadre macaco. Eu achei isso aqui, você sabe o que é?
_ Uai, sô! É queijo...
_ E come?
_ Olha, comadre onça: come sim e é bom, mas primeiro tem que curar o queijo.
_ Ah... é? E como é que se faz?
 _ Eu vou subir com ele lá para cima daquele ponteiro de galho e amarro lá. Todo dia agente vem ver como é que está. 

Assim foi feito. No dia seguinte vieram os dois: a onça pisando macio no tapete de folhas secas do chão mateiro; o macaco pelos ramos e cipós. Chegaram na árvore do queijo e o macaco disse:

_ Senhora espera aí que eu vou lá na copa ver como está. (E subiu.)
_ Ôh, macaco! Como é: já curou?
_ 1/4 já foi, comadre. 

Tirou um quarto do queijo e comeu. 

A mesma cantilena aconteceu no dia seguinte. E a onça ficou pispiano.

_ Meio queijo já foi, comadre, disse o macaco ao comer mais um quarto do queijo. 

Foram embora. Quando o macaco teve certeza que a onça estava longe, voltou na árvore do queijo e com certa dificuldade amarrou lá em cima uma pedra grande, clara, arredondada, lado a lado com o queijo. No dia seguinte, na mesma hora dos outros dias, vieram ver o queijo. 

_ Ôh, comadre, já está todo curado. 

Sem que a onça percebesse comeu a outra metade e disse para a fera:

_ A senhora deita aí no chão de barriga para cima e com as patas abertas. Eu corto a corda e a senhora mata o queijo nos peitos e abraça ele rápido para não rolar para o chão. Combinado?
_ Pode soltar. 

O macaco com sua faquinha cortou a corda e a pedra despencou das alturas em grande velocidade sobre o peito da bicha, que ficou lá estrebuchando de dor, rolando no chão da floresta. O macaco satisfeito, sumiu rapidamente pelas árvores.
Onça-pintada. Artesão: Mário Alves. Matéria-prima: madeira.
São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei/MG) 

Pequeno glossário

Bicha: onça, jaguar, canguçu. Bichona. 
Cantilena: literalmente, cantiga repetitiva; por extensão, conversa que não muda de assunto.
Estrebuchando: em estado de agonia.
Maquinou: engenhou, pensou, planejou, pôs em prática um plano. 
Mata nos peitos: apara sobre o tórax. Expressão futebolística, referindo-se à bola numa jogada. 
Pispiano: termo arcaico - esperando em observação.
Puxou conversa: abriu um diálogo; iniciou uma conversação. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli.
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 11/10/2015.
** Informante: Aluísio dos Santos ("Ló"), São João del-Rei,  1995. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário