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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 5 de junho de 2014

Troca de Bandeiras

A troca de bandeiras é um ritual das folias e congados, efetuado quando dois grupos se encontram amistosamente numa rua ou praça. Se o encontro não é cordial, gerado por rivalidade pré-existente ou instantaneamente surgida, a troca via de regra não se efetua.

Consiste em um grupo abordar o outro e oferecer sua bandeira aos devotos do outro grupo, que de imediato a beijam, passando-a o bandeireiro por cada um dos componentes e em contrapartida ofertam a sua para igual saudação. Concluídos os cumprimentos, destrocam-se as bandeiras com versos laudatórios e elogiosos de parte a parte e cada grupo segue seu destino. Tem caráter ocasional, pois depende do eventual encontro.

Troca de bandeiras no encontro de dois congados: a bandeira dos caboclos (Guarda "Divino Espírito Santo", à esquerda)
de Raposos, passa aos marujos (Guarda "Sereia do Mar", à direita), de Congonhas, e vice-versa, durante um festejo nas ruas
de Tiradentes/MG. 26/07/2015. 

Nas festas em geral muitos grupos se deparam, nem sempre porém o ritual ocorre, excetuando-se dois grupos muito amigos, independente da programação dos festeiros.

Em Carrancas, contudo, assisti em 07/11/2004, na Festa do Rosário, a troca como parte programática da Festa do Rosário, quando todos os ternos após o Recolhimento do Reinado, diante do Rei Congo e da Rainha Congo, assim ritualizam, tendo como anfitrião de todos a guarda de congo local. O verso de convite é:


“Olha que coisa bonita,
que são dois congos encontrando na rua! 
você beija a minha bandeira 
qu’eu também vou beijar a sua!” 
(Congo, Carrancas, 2004)

E assim os bandeireiros respectivos trocam. A seguir o terno abordado tem o direito a cantar um verso de resposta, cordial e laudatório e depois destrocam para se repetir entre o congo local e outra guarda visitante.

Nas folias o ritual pode ser um pouco mais complexo posto que pode haver apenas a troca de bandeiras como nos congados ou o se complementar com o cruzamento das bandeiras. Eis uma chamada ao ritual:

"Deus vos salve, folião, 
dessa nobre companhia,
encruza nossas bandeiras 
para o encontro de folia." 
(Mestre Dinho, Arraial das Cabeças, Bairro Bonfim, São João del-Rei, 1993)

Os dois bandeireiros ou os palhaços, seguram as bandeiras enquanto se estende um extenso ritual de cantoria de saudação.


Cruzamento de bandeiras num encontro de folias em São Sebastião da Vitória 
(São João del-Rei/MG), janeiro/1996. 

Completada a saudação, as bandeiras são trocadas enquanto um folião canta e o outro ouve. Depois se cala para ouvir aquele que saudou. Só então destrocam, após verso próprio, pedindo a devolução da bandeira.

Já um encontro não fraterno não tem troca de bandeiras, ou então, no caso das folias, quando estão cruzadas, surge a demanda que se estende em forma de versos desafiadores com perguntas enigmáticas sobre as tradições fundamentais do grupo, que devem ser respondidas em verso. Em caso negativo, a bandeira é tomada e a folia passa a andar com duas bandeiras. Mas este processo de desafiar e tomar bandeira sobrevive apenas na memória dos mais velhos, pois de fato, caiu em desuso. Pelo menos aqui nesta região...


Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: encontro de folias, Ulisses Passarelli; encontro de congados, Iago C.S. Passarelli.

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