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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 19 de agosto de 2014

Ditados - parte 2

A corda sempre arrebenta do lado mais fraco – numa disputa, o menos influente sempre perde.

A necessidade faz o sapo pular – o indivíduo acomodado na hora da grande necessidade começa a agir.

Antes só que mal acompanhado – é melhor estar sem companhia que junto de uma pessoa má, imprestável, falsa.

Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura – é pela insistência que se alcança resultados.

Amigado com fé, casado é – a união de um casal não sacramentada na igreja e não oficializada no documento se torna válida se o sentimento que os une é verdadeiro.

Beleza não põe mesa – a bela aparência não implica em eficiência no trabalho. No passado era referência à mulher bonita mas não prendada, ou seja, não preparada para servir ao marido. O ditado caiu por terra neste sentido graças à força do movimento feminista e as conquistas sociais da mulher. Variante: “Boniteza não põe mesa”.

Boi sonso é que arromba curral – o limite é avançado por aquele que aparenta ser fraco ou bobo.

Bom cabrito não berra – o inteligente mantem-se calado para não ser visto ou alvejado por perseguidores. Aconselha-se para se evitar reclamações desnecessárias.

Briga de marido e mulher, ninguém enfia a colher – em desavenças de casal ninguém deve se intrometer.

Cabeça quente, pé dormente; deito na cama, estou doente – diz-se do preguiçoso ou de quem simula dores e sofrimento para chamar a atenção sobre si ou para rogar cuidados.

Cachorro cotó não passa em pinguela – quem não é dotado de certas capacidades não deve se arriscar nas ocasiões em que elas são necessárias. Analogia: a pinguela é uma ponte muito estreita, improvisada sobre um pau. Para atravessá-la o cachorro precisa da cauda para dar equilíbrio, como uma vara na corda bamba. Cotó quer dizer sem cauda ou de rabo muito curto.

Cachorro que late não morde – aquele que muito ameaça, não faz de fato. Quem tem de fazer algo, não avisa, faz. Variante: “cão que ladra não morde”.

Cada um no seu canto chora o seu tanto – todo mundo tem seu próprio sofrimento interior, ainda que não manifestado.

Carro apertado é que canta – diante da necessidade extrema é que as atitudes são mais efetivas. Referência ao carro de bois, que quando tem muito peso em cima geme pelo atrito das peças de madeira (eixo e cocão).

Casamento só é bom para fotógrafo e padre – casamento é útil para quem tem lucro com ele.

Chumbo trocado não dói – quando se vinga, o ataque sofrido não causa tanto sentimento negativo.

Como se toca se dança – a ação deve ser de acordo com a situação específica ou contexto da ocasião.

Defunto deita na rede e manda os outros balançar – quem não faz nada ainda quer ser adulado. Alusão aos antigos enterros em rede, onde o cadáver balançava pendente pelo movimento dos carregadores.

Deus ajuda quem cedo madruga – quem acorda cedo para trabalhar recebe ajuda divina. Deus abençoa quem não é preguiçoso. Existe um ditado contrário que diz: “mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga”, referindo-se que a ajuda sagrada tem mais resultado que a dedicação extremada ao trabalho.

Devagar com o andor que o santo é de barro – não se exagera numa dada situação pois há risco de se perder tudo. Referência a uma procissão, onde não se deve correr com o andor pois o risco da imagem cair e quebrar é grande.

Devagar se vai ao longe – não se deve parar de agir e lutar pela vida, ainda que lentamente, para se alcançar resultados.

Diga-me com quem tu andas que eu te direi quem tu és – nós somos comparados às nossas companhias: se boas, somos bons, se más, somos maus. Variante: “quem anda com os bons será um deles quem, anda com o ruim será pior que ele.”

Ele sabe o mato que lenha – a pessoa de quem se fala não provoca quem é mais forte ou poderoso. Diz-se de quem persegue a muitos mas não a quem enuncia a frase.

Em terra de cego, quem tem um olho é rei – onde ninguém percebe um caminho de fama ou de ganhar dinheiro, aquele que o percebe e explora, ainda que toscamente (“caolho” = de um olho só), fica rico ou famoso.

Foi tosquiar, saiu tosquiado – foi com o intuito de atacar, não conseguiu e saiu atacado. Foi prejudicar deliberadamente e saiu prejudicado. O mesmo que “foi capinar, saiu capinado”.

Galo que canta não é de briga – quem ameaça, de fato não é capaz de fazer. Tem o mesmo sentido de “cachorro que late não morde”.

Gato escaldado não cai no pote de água fria – quem já teve um motivo de queda na vida não cai de novo na mesma armadilha do destino pois já tem experiência. Variante: “gato escaldado tem medo de água fria.”

Mais vale perder um minuto na vida que a vida em um minuto – muita pressa traz riscos e não compensa os resultados.

Mais vale um cachorro amigo, que um amigo cachorro – não vale a pena ter uma amizade não sincera. É preferível o convívio com um animal de estimação.

Matar dois coelhos com uma cajadada só – alcançar um resultado duplo com uma ação única.

Muito riso é sinal de pouco siso – excesso de brincadeiras, gracejos, piadas é indicativo de pouca concentração nos afazeres, pouca responsabilidade no serviço, pequeno juízo (siso).

Mulher de bigode nem o diabo pode – mulher que apresenta pelos sobre os lábios superiores é de índole bravia, nervosa, geniosa, temperamental.

Não se meta onde não é chamado – não se envolva em questões que não lhe são pertinentes. Casos alheios podem nos afetar quando nos envolvemos.

Nem tudo que reluz é ouro – não pode confiar na beleza como indicativo de qualidade.

O apressado come cru – a pessoa acelerada alcança resultados imaturos. Não obtém os frutos completos de uma investida.

O feitiço virou contra o feiticeiro – a situação saiu às avessas do planejado, atingindo o atacante, o ofensor.

O pai rouba, os filhos comem, os netos morrem de fome – aos erros de hoje se paga pelos resultados no futuro, quando não mais se espera ser punido por causa dos deslizes.

O que vem de baixo, não me atinge – ofensas de pessoas em posição social inferior não tem o poder de atingir e prejudicar.

Papagaio come milho, periquito leva a fama – o grande comete o erro e o pequeno, mesmo inocente, leva a culpa.

Pau que nasce torto morre torto – quem traz defeitos advindos do mau ensino familiar nunca se corrigirá.  Variante: “pau que nasce torto nunca se endireita.”

Perto de quem não é certo, um olho fechado e outro aberto – nunca se deve confiar plenamente em pessoas de caráter nebuloso ou de personalidade conturbada.

Quem dá o que tem a pedir vem – quem não dá valor aos próprios bens conquistados, termina na miséria.

Quem desdenha quer comprar – quem atribui muito defeito e má qualidade a algo ou alguém é porque está na verdade interessado em adquiri-lo ou aproximar-se.

Quem fala o que não deve, escuta o que não precisa – aquele que não mede as palavras ofendendo e acusando aleatoriamente, termina por ser execrado como resposta. Variante: “quem fala o que quer, escuta o que não quer”.

Quem não tem quem por si chore, todo dia morre – o antipatizado que se torna isolado do convívio social, sempre arruma meios de chamar a atenção para se aproximar de alguém.

Quem não te conhece que te compre – quem não conhece teus defeitos que te considere como bom.

Quem pode, pode; quem não pode, sacode – que tem o poder de alcançar um resultado dele usufrui; quem, não tem, deve se conformar. Variante: “quem pode, pode; quem não pode, bate palmas.”

Quem veste ruim pano, veste duas ou três vezes no ano – quem não tem luxo, aceita o simples, sempre tem com que se valer.

Urubu na guerra é frango – no tempo da dificuldade não existe luxo: o que normalmente é de pouco valor nesta ocasião se torna valorizado.

Quando você vem com o milho, eu já estou com o fubá – eu sou mais ágil, já conheço sua intensão. Quando o oponente provoca sorrateiramente um assunto ou situação o outro já sabe o que fato ele deseja alcançar de maneira dissimulada.

Notas e Créditos


* Texto: Ulisses Passarelli

** Obs.: coleta de vários informantes, em datas diversas, durante as décadas de 1990 e 2000, em São João del-Rei e Santa Cruz de Minas. Agradecimentos especiais a Cida Salles, pelo auxílio na coleta. 

*** Leia também a primeira parte desta postagem: DITADOS - parte 1 

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