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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Na minha terra se fala assim - parte 5

Cabeça de Bagre – Pessoa com ideias ruins, imbecil.
Cabeça de nós todos – indivíduo de cabeça desproporcionalmente grande; cabeção, cabeçorra.
Cabeçudo – 1- de cabeça grande; 2 - teimoso.
Cachola – Cabeça, no contexto de fonte da inteligência, raciocínio, reflexão. Por a cachola para trabalhar = pensar.
Cachorrético – em estado crítico, extremo, de grande miséria ou dificuldade. Situação cachorrética.
Cafundó do judas – 1- lugar indefinido; 2- lugar muito longe, ermo, de acesso difícil.
Cagão – diz-se de quem tem muito medo; medroso.
Caiau – velho, acabado, mal conservado. Possível corruptela de calhau mas não tem o sentido de pedra. O carro dele é um caiau danado...
Cambeta – o mesmo que zambeta: manco, coxo, que balança por falta de estabilidade e calço, o que maquitola.
Cambito – 1- peça de madeira componente da arreata de animais de carga, própria para carregar feixes de lenha, cana ou capim; 2- por analogia, fino, alongado, discanelado.
Camisa de sete varas – cilada, armadilha, situação embaraçosa, caso difícil de se desvencilhar. Entrou numa camisa de sete varas.
Candonga – africanismo: intriga, fofoca, mexerico, disse-me-disse. Nome de um povoado de Tiradentes/MG, junto á Serra de São José, no limite com Santa Cruz de Minas ao longo da Estrada Real.
Catapumba! – interjeição indicativa do som de um tombo, queda no chão.
Catatau – pequeno, nanico, miúdo, raquítico.
Cegueta – o que enxerga pouco sem ser exatamente cego.
Chanfrar – por analogia a cortar em chanfro, diz-se de cortar um pedaço grande de algo para comer. Chanfrou = comeu. Chegou com fome, chanfrou a marmita.
Changuana – diluído, ralo, pouco concentrado, água de batata. O café ficou uma changuana.
Chantecler – de fino sabor, bom, de bom gosto.
Chapuletada – porção ou dose grande. Bebeu uma chapuletada de pinga para rebater a friagem. Chapuleta = grande. Pescou um chapuleta de piau.
Chorar de barriga cheia – reclamar sem razão estando beneficiado pela circunstância. Resmungar mesmo quando a situação lhe está favorável.
Chouriço amarrado – pejorativo: pessoa obesa que usa roupas justas. Gordo com cinto apertado.
Chuchu – gíria em desuso: bonito, atraente, chuchuzinho, chuchu de iaiá.
Chupar-olho – tirar vantagem desmedida num negócio, alcançar grande lucro em prejuízo de outrem, desonestidade numa transação de venda, aluguel ou troca.
Cocota – gíria em desuso: bonita, atraente, cocotinha. Moça.
Embancar – sentar num banco, abancar.
Empachado – cheio, farto. Ficou empachado depois do almoço.
Empombar – criar caso, arranjar confusão, buscar contenda.
Encalacrado – endividado, em dificuldades.
Enfiar a viola no saco – ficar sem argumentos; calar-se ante uma verdade que lhe atinge sem possibilidade de recurso verbal.
Enfurruscado – de aspecto sombrio, nebuloso, fechado. Tempo enfurruscado = dia chuvoso.
Entrão – quem entra sem pedir licença, sem ser convidado.
Entrar numa canoa furada – enveredar-se numa situação embaraçosa que aparentava ser boa.
Estar no cu do seu Estevão – estar em grande dificuldade. Situação extremada. Variante: "cu do Zé Esteves".
Falo do corpo, não da alma – expressão de pudor e eufemismo, usada para anteceder a uma crítica que se faz a alguém que já morreu.
Família de sacatrapo – família de hábitos exdrúxulos, fora do padrão de comportamento social.
Favas contadas – coisa certa, previsível, resultado tido como certo antes de acontecer, garantido.
Ficar coelho – ficar esperto, ter sagacidade, tornar-se alerta.
Fidazunha – “filho das unhas”, desgraçado, vil, maldito, indesejável.
Filhote de curro-curro – sujeito feio, de má aparência, desajeitado.
Filhote de urutau – idem.
Firula – manha, frescura, subterfúgio.
Frangote – “franguinho”. Jovem atraente, rapaz bem novo, adolescente, rapazola, rapazote. Gíria em ocaso.
Franguinha – idem com referência ao sexo feminino.
Fuçador – que se envolve em diversos assuntos e os resolve; fuçado.
Fuça-fuça – que remexe em tudo, que revolve os guardados domésticos; curioso.
Fulo(a) – com muita raiva, irado, nervoso. Termo que em sua origem alude a uma etnia africana escravizada no novo mundo que conservava um espírito indócil, rebelde à servidão.
Fuzuê – confusão, balbúrdia, algaravia, tumulto.
Gata (o) – gíria indicativa de atração física: bonito (a), de boa aparência, atraente ao namoro.
Gato pingado – parco. Diz-se de uma pequena assistência: no espetáculo só tinha uns gatos pingados. O que é pouco.
Geléia de jalapa - moleirão, palerma, lapardão, indivíduo submisso, sem atitudes, sem pulso firme.
Goiaba – interjeição usada pelos meninos ao soltar pipas, gritada à distância para o rival ao cortar a sua pipa com cerol.
Gororoba – o mesmo sentido de grude 2.
Gralha – 1- pejorativo: irmã de caridade, alusão ao padrão de cores do hábito comparado à plumagem das gralhas (aves corvídeas); 2- pessoa que fala muito e em alto tom, em comparação às aves citadas, cuja vocalização é um grito alto e frequente.
Grude – 1- cola ordinária, caseira feita ao fogo numa lata onde se mistura intensamente polvilho azedo molhado até o ponto de se tornar uma cola tosca; 2 – por analogia qualquer substância viscosa; aquilo que cola, gruda. Alimento ruim, de consistência grosseira, não apetecível.  
Impistiado – empestiado. 1- Agitado, traquinas, levado da breca. Menino impistiado; 2- com peste, contaminado, doente, afetado, infeccionado, acometido por um mal físico.
Lágrima de crocodilo – indicativo de falsidade de sentimentos. Diz-se de quem simula tristeza e piedade.
Lapardão – moleirão, sem atividade, indivíduo inerte ante as pelejas da vida.

* Texto: Ulisses Passarelli

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