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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 7 de dezembro de 2014

Garapa, o doce caldo da cana

Garapa é o caldo da cana-de-açúcar, riquíssimo em sacarose. É extraída moendo-se o colmo deste vegetal em moendas, em pequenas quantidades para o consumo in natura, ou em quantidades maiores para servir de matéria-prima para a fabricação de etanol, cachaça, melado, açúcar e rapadura. 

As moendas podem ser elétricas, de fabricação industrial (movidas a motor com polias) ou manuais, de fabricação artesanal, que são as que interessam a este blog. Estas são chamadas engenhos (as maiores) ou engenhocas (as menores). 

A garapa é muito usada como bebida refrigerante consumida com temperatura ambiente ou resfriada. O povo a considera uma bebida forte, nutritiva, que fortalece o sangue e a musculatura. Também é misturada à cachaça, como aperitivo. 

Alguns versos populares registram o seu consumo e predileção: 


“O engenho moeu. 
A garapa é minha. 
O bagaço é seu ...” 
(Terceto infantil, Santa Cruz de Minas, 1997). 


Na umbanda a garapa é bebida preferida de muitos Negros Velhos, ofertada em cuias feitas com a metade de um coco-da-baía seco, cabaça ou cuité. Esta oferenda deixou reflexo num canto congadeiro de catupé de São João del-Rei (2005), com duas versões atuais: 


“Ai, eu quebrei coco, 
pra cuia fazê, 
pra levar aguinha, 
pro vovô bebê!” 

“O engenho tá muendo! 
Deixa o engenh’ muê! 
Pra fazê garapa, 
pro vovô bebê!”. 


Na gíria própria, Vovô é sinônimo de Negro Velho, entidade de umbanda. Note ainda o outro eufemismo, "aguinha", por garapa. 

Garapa é ainda uma espécie de árvore leguminosa, Apuleia leiocarpa, da família das fabáceas, usada em marcenaria, caibros, construção civil, soalhos, tacos, postes, carroças, carrocerias, dormentes, vigas, moirões e canoas.
  
Engenho de bolandeira ou engenho de manjarra.
Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (São João del-Rei/MG). 

* Texto e foto (1996): Ulisses Passarelli

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