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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Caburu festeja São Sebastião

Sendo um santo muito querido, com uma imensidão de fiéis, São Sebastião tem o privilégio de ainda receber festejos mesmo além de seu dia votivo, 20 de janeiro. É assim que, talvez, escapando de concorrer com festas maiores, certas comunidades rurais o festejam um pouco depois, como por exemplo a Capela de São Bento, no Gritador (Prados), na sua capela própria na Restinga do Meio (Ritápolis), na de São Domingos Sávio, em Ibitutinga (São João del-Rei), junto com o padroeiro. Aqui mesmo na cidade, na comunidade da Avenida Santos Dumont, em Matosinhos, já a alguns anos vem sendo comemorado junto com São Benedito em  abril, reunindo congados e folias. 

Foi assim que aconteceu mais uma vez em São Gonçalo do Amarante, ex Caburu, distrito são-joanense, para alegria dos seus devotos, que viram de volta esta festa que ano passado não ocorreu, quebrando sua sequência anual, como antigo e tradicional evento que é. 

A festa contou com tríduo e missa diária às 19 horas, sendo que no último dia houve a reabertura da Capela do Santíssimo Sacramento. A base das reflexões teve como tema "Com São Sebastião testemunhamos a fé, assumindo a nossa missão" e o lema "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5,1).

Vinte e cinco de janeiro foi o dia maior, com alvorada de fogos e sinos às 5 horas, missa festiva às 10, leilão no começo da tarde, missa seguida de procissão 16 horas, concluída com bênção do Santíssimo Sacramento e como arremate, queima de fogos 21 horas. 

Como notas de destaque é preciso frisar a presença da folia de São Sebastião local, sob o comando de Lourival Amâncio de Paula, o querido e respeitado Mestre "Vavá", baluarte da cultura local, que muitos esforços tem feito para manter os folguedos da terra. Com apoio de seus companheiros de folia, rumou para a praça e animou os festejos de largo, visitou a igreja com louvores ao santo mártir e igualmente animou com seus versos a procissão. 

Da mesma maneira exitosa, foi a "Folia do Carlão", sob o comando do Folião Carlos Leandro de Oliveira, da Colônia do José Teodoro, no mesmo município, com belos versos sob a voz do experiente Embaixador Antônio Francisco dos Santos. Esta folia fez o mesmo trabalho da outra e ainda visitou várias residências. 

É mister registrar que as duas fizeram um encontro na praça, momento pacífico de confraternização. 

Houve um almoço com renda em favor da festa. Sua produção e venda demandou uma conjunção de esforços de festeiros e colaboradores. 

Outro ponto de destaque foi o leilão, muito bem conduzido por Deilson Gonçalo Alves. Os procuradores previamente em árduo trabalho prepararam tudo, ganhando bezerros, garrotes, leitões, frangos e galinhas para o evento. Foi armado de improviso um curral de tábuas na praça, sob a sombra de uma grande árvore. É de se destacar o trabalho abnegado do procurador de gado (*) Ednei Sebastião de Oliveira, ao centro do curral separando os lotes de animais. O leilão foi muito concorrido e por diversas vezes assistiu-se a cena de reses arrematadas e de novo doadas ao leilão, para aumentar a renda de São Sebastião, como dizem, prova concreta do espírito colaborativo do devoto povo rural. 

É ocasião de se notar de perto, a prática do leiloeiro, o círculo de gente observando e dando lances, comentando sobre as qualidades de um animal, que tem condições de largo desenvolvimento e futuro lucro. Os olhos treinados incitam preços maiores e assim passaram primeiro os bovinos, depois os porcos e por fim as aves peiadas (com peia, ou seja, de pés atados por embira para não fugirem). Para arrematar, o sr. Mário Alves, artista da terra, congadeiro e folieiro, doou uma de suas esculturas artesanais para o leilão, um belo galo entalhado em madeira, que foi bem disputado (**). 

A procissão trouxe o povo todo ao largo, sob o ecoar do sino no campanário. Na forma de praxe, tomou o rumo do cemitério, em frente ao qual retornou para o outro extremo da vila e por fim ao templo colonial. A bela imagem do santo estava em andor forrado de tecido vermelho, com flores vermelhas, com uma faixa vermelha trespassada ao peito... tudo vermelho, que é a cor do santo mártir, do sangue, da vida entregue por Cristo. Atrás da imagem, ramos de laranjeira perfumada lembrança evocativa da verde mata. 

No seu decurso, a Folia do Vavá atrás do andor e a do Carlão na frente, fizeram a música de todo o itinerário, sempre com versos laudatórios muito respeitosos, enaltecendo os atributos do glorioso taumaturgo ou narrando em cantoria passagens de seu tocante martírio. O povo estava concentrado na função religiosa, em prece e no meio ainda vimos algumas crianças de colo, carregadas carinhosamente, vestidas unicamente de calção e uma faixa larga de tecido em diagonal sobre o peito. Tudo vermelho, óbvio. Imitando a vestimenta do santo, essa forma de pagamento de promessa tão singela vai rareando e na cidade já não se vê facilmente. 

O festejo em São Gonçalo do Amarante foi ordeiro, tranquilo, autêntico e devoto. A cultura popular mostrou sua força e conviveu harmonicamente com todos os elementos e partes constitutivas da festa. Fazendeiros e sitiantes tanto doaram reses quanto as arremataram, e muito lhes é devido pelo êxito alcançado. Patrocinadores acreditaram na comemoração e deram sua ajuda. 

Resta parabenizar a comunidade, as folias, os procuradores que no papel de festeiros envidaram largo esforço em prol do evento, e, por fim e em especial, ao pároco da Paróquia do Senhor Bom Jesus do Monte, à qual se vincula a Igreja de São Gonçalo, Padre Ilton de Paula Resende, sempre afável com os fiéis e eloquente e sério no trato com a prática religiosa, que muito respeitosamente saudou os grupos de folia. 

Igreja de São Gonçalo do Amarante.
Aspecto geral do leilão. 
O Procurador Ednei em dedicado apoio ao leilão.

Numa tribuna, o Leiloeiro Deilson apregoa o gado.

Mestre Vavá, em plena cantoria folieira.  
Cruciferário e ciriais tomam a dianteira da procissão acompanhados
por outros irmãos de opa do Santíssimo Sacramento. 

A imagem em andor do prestigiado Santo Mártir, São Sebastião. 

A procissão retorna à praça distrital. 

A Folia do Vavá na procissão. 

A Folia do Carlão na procissão. 
Dorival, um dos esforçados festeiros do lugar.

Bastião se exibe para o povo, no ritmo da folia. 

* Além de Ednei, o programa impresso listou como procuradores: Dorival Caim de Paula, Carlos Guilherme Neto, Marly Maria Calsavara Oliveira e Sandra Sebastiana de Lima. 
** O costume desses leilões e praças de gado com renda para a festa ou para obras da igreja é muito tradicional na região. Uma notícia assaz interessante é esta:“Entusiasmado e aparentemente saudoso, o Revmº Padre Américo (Ceppi), prosseguiu na jocosa narrativa de suas viagens, nas quais visitou todos os distritos de São João (del-Rei) e angariou 404 galinhas e muitas cabeças de gado para a próxima praça. A venda das galinhas deu uma bela soma, assim como também, um pequeno leilão de gado em Emboabas, tudo em pról da construção do Santuário de São João Bosco.” (Fonte: Livro de Atas da Pia União das Cooperadoras Salesianas, Paróquia de São João Bosco, São João del-Rei. Ata da reunião de 09/11/1951, p.13 v. Gentilmente cedido pela ex-presidente Cirene Passarelli, tia do autor, em 1º grau, pelo lado paterno). 
***Texto e fotos do leilão: Ulisses Passarelli
**** Demais fotos: Iago C.S. Passarelli

4 comentários:

  1. Ulisses,

    mais uma vez você produz um registro importantíssimo sobre uma manifestação popular pouco difundida, pouco conhecida e ainda pouco reconhecida em nossa cidade. Talvez neste sentido, penso que seria muito importante sugerir a inclusão desta festa do Caburu no calendário cultural de São João del-Rei?
    Grande abraço.

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    1. É plenamente merecedora e mais ainda: porque não um calendário das festas rurais?
      Muito grato pela visita e comentário. Abç.cordial, UP.

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  2. Parabéns Ulisses Passarelli, pela sua esplêndida divulgação da festa de São Sebastião. Seja sempre bem-vindo a nossa comunidade.

    Abraços dos amigos,
    Deilson e Mario.

    São Gonçalo do Amarante, 22 de março de 2015.

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    1. Agradeço a visita ao blog e a acolhida aí no distrito. Para mim é sempre uma alegria estar em São Gonçalo com sua rica cultura, bela paisagem e gente tão boa. Abraço, Ulisses.

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