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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Coelho: o esperto bicho de nossas fábulas

Os coelhos são mamíferos da ordem Lagomorpha, família Leporidae. O coelho doméstico não é nativo do Brasil. São animais introduzidos a partir do Velho Mundo, pertencendo a vários gêneros (*) não existentes no Novo Mundo. A criação pelo homem selecionou raças de interesse comercial. 

No Brasil o coelho nativo é outro roedor, que embora da mesma ordem e família, pertence ao gênero Sylvilagus, com 17 espécies e várias subespécies nas três Américas, sendo a nossa Sylvilagus brasiliensis

Obviamente que sua semelhança ao coelho domesticado trazido pelo europeu, fez com que de imediato fosse também batizado igualmente pelos portugueses. Virou, então, "coelho do mato". 

Mas da língua indígena herdou o nome de "tapiti", que significa "barriga branca", alusão a uma característica da pelagem do animal (**). 

Também é conhecido por "candimba", um africanismo, derivado do idioma quimbundo, kandemba (***).

Coelho do mato, tapiti ou candimba, na cultura popular é o animal símbolo da esperteza, da sagacidade, vencendo nas fábulas a força brutal e a ferocidade da onça e do lobo-guará e mesmo as armadilhas humanas. Figura lépido em inúmeras estórias, gerando um ciclo temático no fabulário, corrente aliás noutras partes do mundo com os demais coelhos e lebres. 

Está também no canto do jongo-de-roça, entoado durante os mutirões de capina, como estes exemplos do município de Resende Costa (****): 

"Chorei, mamãe! 

Ai, chorei, papai! 
Candimba, vai! 
Candimba, vai!” 

Outra: 

“Ô candimba! 
Arruma a mala 
vai embora, 
ô candimba!” 

A cantiga como se vê celebra o fim da capina: o coelho vai embora para outra paragem onde o cuidado com a roça não chegou, pois esta foi capinada!

Assim a cultura popular vai construindo com singeleza seu saber no convívio com a natureza. Por meio de cantos e fábulas, uma geração transmite à outra as características de um animal, contextualizadas à criatividade do imaginário folclórico.

Coelho do mato, tapiti ou candimba.

Notas e Créditos

* Wikipédia, verbete "Coelho" (acesso em 13/01/2015, 20:10 h). Para apreciação dos gêneros ver também: Mamíferos do Mundo.
** Eurico Oliveira ensina que o nome procede do tupi-guarani, de "ta"= pelo, "pi" (pia) = barriga, "ti" (tinga), branco. In: Entre o gambá e o macaco. Belo Horizonte: Itatiaia, 1984. Coleção Zoologia Brasílica, v.6.
*** Wikipédia, verbete "Tapiti" (acesso em 13/01/2015, 20:20 h)
**** Originários da comunidade de Cubango. Informante: José Camilo da Silva, 1993.
***** Texto: Ulisses Passarelli
****** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 27/09/2014.
******* Confira pelos links abaixo algumas fábulas já publicadas neste blog, que envolvem o coelho:

O lobo do cu queimado
Tradições sobre o lobo
O coelho e o jacaré
O macaco violeiro
O bicho folharal

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