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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 22 de março de 2015

Na minha terra se fala assim - parte 10

Morcego – embrulhão, ruim de serviço, sem expediente, aquele que não é pró-ativo. Quem faz corpo mole no serviço deliberadamente. Quem propositalmente não trabalha com afinco, dedicação, para passar logo o horário de trabalho sem rendimento. Fazer morcegagem: enrolar serviço; fingir que está trabalhando.

Morgado – encurvado, envergado. Torto.

Mucureba – o mesmo que “mocorongo”. Deselegante, simplório, fora da moda. 

Muito fogo para pouca lenha – expressão que indica muito entusiasmo para algo que efetivamente dará um pequeno resultado. Diz-se de quando se investe com energia em alguma coisa pouco durável ou rentável.

Molambo – africanismo. Farrapo, andrajo. Molambento: em estado de mendicância. O povo pronuncia sempre com “u”: mulambo, mulambento. É o nome de uma casal de entidades espirituais da linha esquerda: Exu-mulambo e Pomba Gira Maria Mulambo. O ponto cantado diz expressamente: “Tem dó! Tem dó! / Minha roupa é mulambo só...”  

Munheca – 1- pulso; 2- sovina, "garrafinha", "munheca de samambaia", "seguro". Usurário. 

Muque – 1- força física. Pegar no muque: fazer força para carregar ou segurar. 2- O músculo bíceps.

Murrinha –1- mau cheiro referente aos maus hábitos de higiene. “Fulano é murrinhento” (mau cheiroso); 2- chatice, enjoamento, antipatia. “Fulano é uma murrinha!” (chato, indesejável).

Murundu – monte de terra ou entulho; elevação, monturo. Um dos mais conhecidos mitos do ciclo da angústia infantil, o tutu, tem num acalanto a referência expressa: “Dorme, neném! / Tutu vai te pegar... / detrás do murundu / com um pedaço de angu!”. Também se pronuncia “murundum”.

Museu – em sentido pejorativo, coisa velha, traste; pessoa idosa.

Neca de catibiriba – expressão negativa extremada: de jeito algum, jamais, absolutamente nada.

Nem tchum! – expressão que equivale a "nem ligou", "não deu a menor importância", "fez pouco caso de", desdenhou.

Ôh, bala! – interjeição de catarse e admiração: "credo!",  "Sai de mim!"

Pegar o bonde andando – entrar num assunto já iniciado, tirando dele conclusões precipitadas sem saber todas as suas implicações.

Pegar o bonde errado – entrar numa situação pensando equivocadamente que era outra.

Pinta brava – mau elemento, má companhia, sujeito à beira da marginalidade. Indivíduo com tendência a ser um fora da lei.  Brigão, ofensivo.

Piriri – disenteria, diarreia, “caganeira”, "intestino mole".

Quebra-galho – 1- gambiarra, provisório, paliativo; 2- o que não satisfaz plenamente mas vale para atenuar um momento: alimento, dinheiro, roupa...; 3- amante, concubina.

Rasgar o cu com a unha – expressão indicativa de extremo desespero diante de uma situação muito difícil. Ataque de nervos, descontrole emocional, histeria. 

Tantã – de ideias desconexas, de pensamentos desorientados. Doido.

Tempo da(o) zagaia – antigamente, outrora, antanho, pretérito. Referência a um objeto ou situação de muito tempo atrás. “Essa estória é tempo da zagaia...”,“Esta ferramenta é do tempo da zagaia...”

Tempo do onça – idem. Sempre no masculino: do onça (e não da onça.)

Tetéia - gíria em ocaso: linda, graciosa, bonitinha, atraente. Em geral era usada por rapazes para se referir a moças.

Til-til – gíria em ocaso: lindo, gracioso, bonitinho, atraente. Em geral era usada por moças para se referir a rapazes. "Pão", "bicho bom". 

Tio Véio – pessoa relativamente jovem que se comporta com hábitos de pessoa bem mais velha. Bebedor inveterado de café.

Tirar da reta – colocar-se em posição que o isente de culpa; arranjar desculpas e explicações para se livrar de riscos e punições numa dada complicação. "Tirar o cu da reta."

Tirar o pé do atoleiro – se dar bem; melhorar de vida (financeiramente); prosperar nos negócios.

Toco de açougue – depreciativo: pessoa gorda e baixa. "Tarugo"

Toró – temporal, chuva muito forte. “Tribusana”.

Traçar – 1- comer, devorar. “Traçou o bolo”;  2- em sentido chulo, ato sexual: “traçou a filha do vizinho”.

Traficança – bagunça, excesso de objetos inúteis, obsoletos, imprestáveis. Tranqueira. Tralha.

Tragada – dose considerável de uma bebida.  “Tomar uma tragada no balcão.” Talvez corruptela de talagada, que tem o mesmo sentido, já que habitualmente tragada se refere ao hábito de fumar. Tragar o cigarro.

Trambolho – 1- mecanismo grosseiro de trancar portas e janelas, espécie de tramela grande; 2- qualquer engenho ou solução rudimentar para uma estrutura física; 3- pessoa obesa e desajeitada. Feio.

Tremilique – tremura, chilique, faniquito. 

Tribufu – mulher desfeita de corpo, feia, desagradável. “Tribofe”.

Tungar – comer e beber em abundância ou com ímpeto. "Chanfrar"

Um brinco! – expressão indicativa de grande beleza, limpeza, brilho. “Faxinou a casa. Ficou um brinco!”

Uma pinóia! – expressão de veemente negação. De jeito nenhum. O mesmo que “uma ova!”

Vaca que esconde leite – pessoa que não revela o que tem, que esconde capacidade e potencial, ou as posses.

Vai com as batatinhas! – expressão de esconjuro, indicativo do desejo de afastamento. “Vai com Deus e as pulgas!”

Vareta – magricela, magérrimo. "Pau de virar tripa". "Mané magro". " Esqueleto".

Ver passarinho do rabo verde – estar extremamente alegre, agitado, prolixo.

Vetético – termo depreciativo. Idoso de comportamento desagradável, cheio de manias; velho implicante. 

Vivaldino – esperto, sagaz, que tem muita vivacidade. Espertalhão. 

Vivinho da silva – idem.

Xepeiro – que tira proveito do alheio, usurpador.

Xereta – intrometido, enxerido.

XPTO – abreviatura da palavra "Cristo" em grego. Indicativo de boa qualidade: muito bom, bonito, saboroso. Usa-se com o sentido de especial, diferenciado, chique. Almoço XPTO; terno XPTO.

Zebedeu – besta, idiota, imbecil, abestalhado.

Zona – 1- prostíbulo, cabaré; 2- bagunça, desordem, esculhambação.

* Texto: Ulisses Passarelli

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