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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 7 de abril de 2015

Na minha terra se fala assim - parte 11

Meia-foda – pejorativo: baixinho. Pessoa de pequena estatura, sem ser propriamente anão.

Miquenta  - cheia de luxo, de cerimônias, rapapés, etiquetas.

Molhaceira – umidade, lugar molhado demais.

Na panela das almas – diz-se do que foi adquirido por um preço muito abaixo do que realmente vale; baratíssimo. “Comprou na panela das almas”. Talvez seja referência ao vasilhame que outrora se deixava nos cruzeiros para por oferendas em sufrágio das almas. Referência a dinheiro miúdo, muito trocado.

Não dá ponto sem nó – expressão que indica que uma ação foi meticulosamente planejada para resultar em lucro, benefício, promoção.

Não está no gibi –indicativo do que é incalculável, inimaginável, de alta expressão. Denota espanto e admiração.

Não sei por que cargas d’água – de maneira desconhecida, de forma incógnita, por motivo não informado. “Não sei por que cargas d’água, estava tudo planejado mas deu errado...”

Nem a malho! - de jeito algum, jamais, de maneira nenhuma. Negativa absoluta. Malho é um tipo de marreta usada pelos ferreiro para bater o ferro em brasa sobre a bigorna.

Nem que a vaca tussa! – idem.

Nó cego“picareta”, “morcego”. Sujeito que não assume seus atos. Pessoa escorregadia aos compromissos. Indivíduo não confiável. “Dar nó”: faltar a uma obrigação ou compromisso. Voltar atrás com a palavra, faltar com um acordo verbal; não ir ao serviço.

No cu do cachorro – muito escondido, oculto, onde ninguém acha, sumido, desaparecido. “Sumiu com a chave. Enfiou no cu do cachorro.”

No cu do zé esteves – idem.

No cu do zebedeu – ibidem.

Novinho em folha – novíssimo, muito novo, restaurado, reformado. “O carro voltou novinho em folha da oficina”.

Olho de peixe morto“olho caído”, olhar morteiro; aparência de sonso; cara de sonolento sem de fato estar com sono. Ptose palpebral.

Onti! – desconjuro: de jeito nenhum; para longe de mim; não quero jamais. “não vou lá... onti!”

Outros quinhentos! – Exclamação de melhoras; indicação de excelência. Ótimo. “Depois da pintura nova, a casa ficou outros quinhentos!”

Ovo de Colombo – solução inusitada para um fato que parecia indissolúvel. Resolução simples para um caso difícil. Diz-se que Cristóvão Colombo pôs fim a uma disputa na qual tentavam colocar um ovo em pé mas sempre desequilibrava e caía. Ele dizendo que era fácil, assumiu a questão e a resolveu, batendo na mesa o ovo para que quebrasse uma parte da casca e assim perdendo o arredondamento natural, parou na vertical.

Panaca – idiota, bobalhão, palerma.

Papa-anjo – pejorativo: aquele (a) que se relaciona com pessoas muito mais jovens. Diz-se de quando a disparidade de idades num namoro é grande demais.

Papa-defunto – pejorativo: adepto dos sepultamentos e velórios. Aquele que está presente a muitos enterramentos.

Papa-hóstia – pejorativo: beato. Pessoa que vai demais à igreja. Quem é muito afeito ao sagrado, mas muitas vezes é renegado na sociedade, porque é cheio de iniquidades.

Par de jarrinha – casal ou dupla de hábitos exdrúxulos, pessoas de costumes inusitados, que de imediato chamam a atenção sobre si pelo jeito diferente de ser.

Passar o carro na frente dos bois – adiantar demais a ordem natural das coisas, atropelar o andamento de um caso, excluir etapas, passar uma fase adiante da outra indevidamente.

Patati, patatá“conversa fiada”, “conversa pra boi dormir”. Assunto sem proveito, diálogo de pouca consistência, palavras dispensáveis. “Veio falar comigo: patati-patatá... e não sei o quê... não gostei da prosa dele não”.

Pau de virar tripa – pessoa muito magra. Alusão pejorativa a uma vara que se usa para facilitar a limpeza das tripas (intestinos) do porco abatido, que serão usadas para confecção de embutidos (linguiça, chouriço). A vara, longa e fina, ajuda a ação de virar do avesso a tripa para melhor limpeza dos resíduos.

Pau pra toda obra – multisserviço; o que serve para múltiplas funções. Aquele que domina várias tarefas.

Pé de serra – miserável. Fora dos padrões sociais urbanos.

Pé rapado – pobre, sem propriedades, sem posses. “Não casa com ele minha filha, que é um pé rapado, não tem aonde cair morto...”

Pega pra capar“tendepá”.  Correria, confusão, discussão, desordem, tumulto, algaravia. “A festa terminou num pega pra capar, aquela gritaiada...”

Pegar com a boca na botija – pegar em flagrante. Ver o fato no momento que ele está acontecendo.

Pela madrugada! – expressão sempre exclamativa, indicando espanto, admiração, indignação. “Descobriram mais uma fraude... pela madrugada!” Não quer dizer que foi descoberto de madrugada.

Pendão das almas – indivíduo muito magro e alto, “dispinguelado”. Ver: pinguela.

Perder a tiana – perder a paciência por completo, alterar-se, sem calma, esbravejar. A pronúncia é “tchiana”.

Periquita“p’riquita”. Termo popular de linguagem chula, usado como sinônimo de vagina. “Soltar a periquita”: ter relações sexuais com vários homens. “Periquitinha”: adolescente, moça bem jovem. Neste caso o termo não tem nenhuma conotação sexual ou pejorativa. É antes um apelido carinhoso, aliás, em ocaso.

Pernas pra quem tem!“pernas pra que(m) te quero!” Expressão usada para indicar fuga. Ato de correr muito para escapar. “Viu uma onça no mato, pernas pra quem tem!” Fuga espavorida.

Perrengue – doente. “Perrengado” ou “aperrengado”: adoentado, não muito bem de saúde, convalescente, prostrado, com fraqueza física. “Perrengagem”: o que traz malefício para a saúde: “adoeceu porque caçou perrengagem na chuva; ficou todo molhado...”

Petecar – atrapalhar, estragar, desordenar, dar errado. “Eh, meu amigo... nosso plano petecou tudo!”.

Picareta – além de ferramenta de escavações, picareta é, em sentido pejorativo, o indivíduo que não cumpre bem as obrigações do trabalho, “embrulhão”, “morcego”; aquele que falta ao serviço, chega tarde, sai cedo. Também é trapaceiro, desonesto, salafrário, enganador.

Picoco“Cucuruto de terra”, “murundum”, “montinho”. Pequena elevação bem localizada e delimitada de solo, destacando na planura. “Veio correndo e tropeçou num picoco”. Não confundir com “pitoco”, que tem o sentido de pequeno pedaço.

Picuinha – implicância, impor dificuldades desnecessárias, burocratizar. “Não resolveu o caso porque ele tá criando picuinha.”

Pindaíba – 1- nome de algumas árvores anonáceas do sudeste e sul do Brasil, consideradas ameaçadas. De sua casca o povo rural retira uma fibra resistente conhecida por embira, usada para amarrios rústicos. 2- situação de miséria, penúria, endividamento: “ele perdeu o emprego, está na pindaíba...”

Pinguela – 1- pequenina ponte improvisada só para um pedestre de cada vez, para travessia de córregos e valas, feita com um tronco de árvore ou feixe de grande bambus. 2- pessoa magérrima. É uma comparação pejorativa ao primeiro sentido da palavra, por analogia à imagem do que é fino, estreito, magro. 

Pintar o sete “Pintar e bordar”. Quebrar a ordem estabelecida, sair da regra social, aprontar traquinagens, fazer estrepolias, travessura. “O moleque pintou o sete! Ele é da pá virada!”

Pintar os canecos – idem.

Plasta – “prasta”. Pessoa moleirona, inerte, de pouca atividade, sem expediente, preguiçoso. Palerma. “Fulano é um plasta!” Por vezes vem de forma redundante, como num xingo: “plasta mole!”

Pras cucuias – aquilo que está sumido, distante, intangível: “viajou pras cucuias, pro Norte...” Embora não tão incisivo, tem em certa medida o mesmo sentido de “pros quintos das arraias!”: “ah... foi lá pras cucuias...” (lugar indefinido, inimaginável, longe das vistas, onde não incomoda mais).

Pros cocos – mal feito, sem zelo, construído de qualquer maneira, sem critério. “A festa foi feita tudo pros cocos...” (feita de qualquer modo; festa ruim); “o pedreiro construiu a casa pros cocos...” (o serviço profissional deixou a desejar).

Pros quintos das arraias!“pros quintos dos infernos!” Expressão sempre exclamativa e impetuosa, excludente, de catarse, como que expulsando ou renegando algo mal, para longe, para onde ficará neutro. Tem o sentido de expulsão, eliminação: “vou mandar meus inimigos pros quintos das arraias!”

Puaia – pessoa boa, prestativa, virtuosa, honesta, agradável, querida. Expressões em sinonímia: “feijão sem bicho”, “boa praça”, “peça fina”, “gente boa”. Caipirismo em desuso: “o sô Zé é puaia, feijão sem bicho!”

Tiquinho"Tiquin'". Pouquinho, muito pouco. “Um tiquinho de gente”: pouca gente, ou, uma pessoa pequena ("pingo de gente"). “Tiquinho de comida”: almoço parco. 

* Texto: UIisses Passarelli

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