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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

"Nossa Sempre Padroeira"

Nossa Senhora do Pilar é a padroeira de São João del-Rei, bem como da Diocese sediada nesta cidade. 

A devoção a Nossa Senhora do Pilar tem origem ibérica. Conta-se que nos primeiros anos do cristianismo o apóstolo São Tiago Maior em pregação na Espanha, na região de Saragoça, viu maravilhosa aparição da Virgem Maria, sobre uma coluna ou pilar de pedra (mármore ou jaspe conforme a referência), rodeada de anjos. Acontece, que naquela época Nossa Senhora ainda vivia encarnada, por volta do ano 40, sendo pois um extraordinário caso de bilocação. 

Em razão de sua aparição sobre o pilar o título logo surgiu e no local se edificou uma igreja.

Tal devoção se esparramou pelo mundo católico através das grandes navegações dos povos ibéricos e foi assim que desembarcou no Brasil. Especificamente no interior de Minas Gerais colonial, nos núcleos de mineração aurífera, como São João del-Rei, foi indubitavelmente trazida pelos bandeirantes paulistas.

E assim ela aqui chegou também em nossos primórdios. Em 1701 o taubateano Tomé Portes del-Rei ganhava o título de Guarda-mor desta região, nosso pioneiro, fundador, patrono e primeira autoridade local, afazendado com sua família no Porto Real da Passagem. Já em 1703 iniciou-se a construção de uma igreja em honra a Nossa Senhora do Pilar, no mesmo Porto Real da Passagem, arredores do atual Matosinhos, São João del-Rei, à época de seu substituto na guarda-moria, seu genro também taubateano, Antônio Garcia da Cunha, pois Tomé fora assassinado por alguns escravos no ano anterior. 

No ano seguinte porém, a descoberta de ouro na região do atual Bairro Alto das Mercês e Ribeirão São Francisco Xavier, nesta cidade, trouxe um alvoroço à parca população do Porto e esparramou-se a notícia do descoberto. Grande fluxo de pessoas se deslocou para junto das minas, onde então se fez uma humilde capela improvisada para a santa, no atual Morro das Mercês. A igreja do Porto ficou inacabada. 

Em 1708, na Guerra dos Emboabas ela foi incendiada. Felizmente a imagem primitiva foi salva. A igreja inacabada do Porto foi convertida em fortaleza durante a dita guerra e dela não existem hoje vestígios, salvo se alguma futura escavação arqueológica o demonstrar. 

Finda a refrega, construiu-se outra capela, no Morro do Bonfim, sob a mesma invocação do Pilar e em 1721 se estabelecia a atual e definitiva Igreja Matriz. Partes aproveitáveis foram transladadas para a igreja definitiva, tal como o altar-mor daquela, possivelmente corresponde ao altar-lateral desta. 

Nos meados do século XVIII, o Sargento-mor José Álvares de Oliveira, figura de grande destaque nos primeiros tempos da cidade, membro ativo da Guerra dos Emboabas, em relato memorialístico, refere-se a Nossa Senhora do Pilar sob a enfática e poética expressão de "Nossa Sempre Padroeira", inspiração deste post, tomada por empréstimo à guisa de título. 

No final da década de 1960 foi inaugurado no Bonfim um monumento à Nossa Senhora do Pilar, rememorando que naquele bairro houve sua capela por alguns anos. A imagem da santa ainda está lá, de pé sobre uma grande pilastra.

Apesar da antiguidade temporal, a devoção a Nossa Senhora do Pilar é hoje pouco popular se comparada a outras expressões ou títulos marianos. Suas comemorações na cidade tem caráter predominantemente litúrgico, sem manifestações folclóricas e quermesses. Não obstante seja padroeira da cidade e da diocese aqui sediada, é festejada a 12 de outubro, que Brasil afora se comemora o dia de Nossa Senhora Aparecida. 

Nossa Senhora do Pilar tem outrossim uma capela própria no arraial do Cruzeiro da Barra, zona rural de São João del-Rei, onde é festejada animadamente em setembro, junto com São José, congregando a população rural dos arredores.

Também em setembro goza de outra festa na região, na sua igreja setecentista no Elvas, município de Tiradentes, alcunhada "Igreja do Gaspar" ou "do Padre Gaspar". 


Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, São João del-Rei,
retratada durante a festividade de São Sebastião, 20/01/2014. 

Referências Bibliográficas


MEGALE, Nilza Botelho. 112 Invocações da Virgem Maria no Brasil: história, folclore e iconografia. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1986. 376p. p.302-305. 

Referências na Internet

Últimas e derradeiras graças. Acesso em 21/12/2015, 03:20h.
 http://www.derradeirasgracas.com/4.%20Apari%C3%A7%C3%B5es%20de%20N%20Senhora/Nossa%20Senhora%20%20do%20Pilar.htm

Notas e Créditos

*Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografia: Iago C.S. Passarelli
*** Sobre a Igreja do Gaspar veja o excelente relato de Luís Cruz sobre seu restauro:
IGREJA DE N. SRA. DO PILAR / TIRADENTES (in: Vírus da Arte & Cia, acesso em 04/04/2015, 14:47h)

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