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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 7 de março de 2017

Brincadeiras infantis - parte 7: cantos interativos com adultos

No universo das brincadeiras infantis sobressai pelo inusitado um pequeno conjunto de fórmulas cantadas, que permitem com muita naturalidade a interação lúdica entre adultos e crianças. São cantilenas revestidas de ingenuidade, pueris, que por sua singeleza conectam o adulto ao mundo infantil, transportando-o ao seu imaginário. Elas facilitam (climatizam...) as brincadeiras com crianças menores e disso também os adultos se aproveitam, relembrando a infância perdida nas curvas do caminho da vida.

Não se restringem apenas ao canto alegre e desinteressado. A criança é tocada com gestos simples reproduzindo algo que a letra sugere. Para brincar com crianças bem pequenas, bebês ainda, é corriqueiro por exemplo: 

"Bate palminha,      BIS
que papai em vem!"

A mãe diante da pequenino, toma delicadamente suas mãozinhas e junto bate palmas no tempo da música, repetindo-se algumas vezes. Outra fórmula: 

"Bate, palminha, bate!
Palminha de São Tomé!
Pra quando papai vier..."

Outra brincadeira muito conhecida é com o neném ou criança pequena no colo, frente a frente, tomando-lhes as mãos. Gera movimentos alternados, à direita e à esquerda, ritmadamente, no tempo musical: 

"Serra, serra,
serrador!
Quantas tábuas
já serrou?
Já serrei
cinquenta e duas
com aquela
que quebrou!"

O movimento imita a dinâmica de vai-e-vem de uma serra. Ao pronunciar "quebrou" as duas mãos são liberadas para trás, simulando uma queda, que de fato não acontece, pois a criança continua amparada. 

A simulação da queda ou a queda de fato em cima de um colchonete, cama ou sofá acontece noutra brincadeira. Esta geralmente é feita com duas pessoas adultas, que frente se dão as mãos e as abaixam para que a criança sente sobre elas, como se os braços dos adultos fossem uma cadeira. Ao começar o canto imprimem um movimento ritmado de balanceio e ao pronunciar "chão" lançam a criança sobre o local fofo onde não se machucará:

"Cadeirinha de fom-fom,
vai jogar neném ... no ... chão!"

Uma das mais populares é a "Dona Aranha". O brinquedo consiste em o adulto com uma das mãos semi-abertas, através de movimentos dos dedos, imitar o andamento de uma aranha, como se estivesse subindo no corpo da criança. É comum que ela leve tão a sério na imaginação que demonstre medo ou repulsa, mas sempre gosta da brincadeira. Quando diz "subiu" a mão sobe; quando canta "derrubou", a mão cai; na parte que diz "sobe, sobe..." a mão (aranha) volta a subir até chegar ao pescoço ou axilas onde se transforma em cócegas, para o deleite da criança: 

"Dona aranha
subiu pela parede, 
veio a chuva forte
e a derrubou... 

Já passou a chuva
e o sol já vem surgindo
e a dona aranha
novamente vai subindo. (*)

Ela é teimosa
e desobediente,
sobe, sobe, sobe
e nunca está contente." 

Existem muitas maneiras ou fórmulas de interatividade lúdica entre crianças e adultos. Certamente que as que incluem cantos e gestos, senão mesmo danças em alguns casos, se revestem de um atrativo a mais pelo elemento cultural da música, mesmo que aparentemente simples. E a música sintoniza, estimula, desenvolve. 

Notas e Créditos

* A segunda quadra tem esta variação corrente na região:

"A chuva já passou
e o sol já vem saindo,
de novo dona aranha
a parede vai subindo."


** Texto: Ulisses Passarelli
*** Coletânea realizada em São João del-Rei e Santa Cruz de Minas em 2002 e 2003. São difundidas em outros municípios da região e permanecem em uso. 

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