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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 9 de abril de 2017

Semana Santa: a Procissão de Ramos

Um domingo antes da Festa da Ressurreição é Ramos. Domingo de Ramos, hoje. Das igrejas o povo em procissão carrega ramos verdes louvando a Cristo. 

As raízes estão na Bíblia Sagrada. O Evangelho de Mateus narra no capítulo 21 (versículos 1-11) como foi triunfal a entrada de Jesus em Jerusalém perto da Páscoa, montado numa jumenta como previra o profeta. Disse o evangelista: "Então a multidão estendia os mantos pelo caminho, cortava ramos de árvores e espalhava-os pela estrada. E toda aquela multidão, que o precedia e que o seguia clamava; 'Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!"(*)

Em João, explicitamente, diz o evangelho: "Saíram eles ao seu encontro com ramos de palmas, exclamando: 'Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel!' "

A prática é extremamente difundida como festa litúrgica e assim um número incontável de capelas, igrejas, paróquias a executam: fieis acompanhando a imagem triunfal do Cristo ou a custódia; clero paramentado, canto entusiasmado de hinos, ramos acenando ao ar. Os próprios templos se ornam enramados neste dia. 

Sobre a antiguidade desta procissão servirá de testemunho o texto de Saint Hilaire, referindo-se à Procissão do Domingo de Ramos nas primeiras décadas do século XIX em Capitinga, próximo a Piunhi: 

"Encontrei muita gente que de lá voltava e levava grandes frondes de palmeira bentas. Estas verdadeiras palmas, em uso em todo o país lembram muito melhor a origem da festa do que os mesquinhos ramos de bucho ou loureiro que se distribuem nas nossas igrejas". (p.157)

Informou ainda que o bucho era distribuído nas igrejas do norte francês e o loureiro nas do sul da França. 

Estas festas em verdade tinham imenso valor no interior nacional. Ramos abre a Semana Santa, que culmina com a Festa da Páscoa. Disse o mesmo autor acerca das famílias rurais indo à missa: 

"No sertão, onde as fazendas são frequentemente bastante afastadas da paróquia, só os homens aí vão no decorrer do ano; mas nas duas grandes festas, Natal e Páscoa, a família inteira empreende a viagem; empilham-se as mulheres e crianças nos carros de boi; passam-se alguns dias na casa que se possui na vila, e, em seguida, volta-se à habitação." (p.165)

Pela mesma época, com pouca diferença, Debret também confirmava a popularidade da festa pascoal: 

"As festas de Natal e da Páscoa, sempre favorecidas no Brasil por um tempo magnífico, constituem épocas de divertimentos tanto mais generalizados quanto provocam mais de uma semana de interrupção no trabalho" (etc., p.144)

Essas palmas (Cycas), ramos de várias palmeiras (areca, aricanga, indaiá e outras), além de vegetais aromáticos (manjericão, rosmaninho, alecrim), usadas e abençoadas na procissão deste dia, o povo guarda em casa o ano todo crendo no seu poder de afugentar os males. Se é percebida uma presença estranha em casa, como um mal assombro, ou se uma forte tempestade ameaça estragos, basta queimar a palha benta de Ramos e sua fumaça, qual incenso sagrado, afugenta os malefícios. O poder desta palha vence no Domingo de Ramos do ano seguinte, quando ela deve ser substituída por outra. 







Fotografias 1 a 5 - Procissão de Ramos entre a Igreja de Nossa Senhora
do Rosário e a Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em São João del-Rei. 


Notas e Créditos

* Outros evangelhos também registraram esta passagem: Mc 11, 1-11; Lc 19, 29-40; Jo 12, 12-19
** Texto: Ulisses Passarelli
*** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 09/04/2017

Referências Bibliográficas

Bíblia Sagrada. 6.ed. São Paulo: Ave Maria, 1965.

DEBRET, Jean Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. 2.ed. São Paulo: Martins, 1972. v.3. 296p. Coleção Biblioteca Histórica Brasileira, n.2.

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela província de Goiás. Rio de Janeiro: Nacional, 1944. 343p. v.1, 157. Coleção Brasiliana, série 5ª, v.68. 

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