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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sábado, 10 de junho de 2017

Festa do Divino 2017: fé e cultura de mãos dadas - parte 1

Após a importante novena e demais cerimônias e atrativos prévios, passou mais um Pentecostes e com ele mais uma edição do Jubileu Perpétuo em honra ao Divino Espírito Santo Paráclito, a vigésima de "resgate, na Paróquia do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em São João del-Rei/MG. Eis que a popular Festa do Divino, persevera às adversidades e sobrevive congregando fé e cultura, devotos e visitantes. 

Nela o fiel redescobre sua raiz cultural, sentimental e espiritual; o folieiro glorifica seu dia maior; o congadeiro se irmana em ritmos e cores graças à fé comum. Cada devoto parece ser uma conta do mesmo rosário. A Igreja é o elo que fecha e harmoniza toda essa composição.  

Muitos, com olhos em lágrimas, beijam a bandeira quando a folia os visita, até mesmo enxugam o choro com seu pano, que cada vez se sacraliza mais, energizado por tantas águas, sorrisos, beijos, flores e perfumes depositados, preces sublimadas ao contemplá-la. Diante de uma folia nossa reza perfura as nuvens e chega à corte celeste, porque nosso coração se purifica. A melodia das folias nos remete ao mundo rural, à ancestralidade no campo. Desperta o caipira dentro de nós, aquela vontade de estar num ranchinho lá no sertão, à luz do luar. Folia é poesia! 

Na Festa do Divino o imperador faz as honras da casa. Acolhe, abençoa, equilibra tudo com seu cetro sagrado, qual um bastão de liderança. Imperador pondera, orienta. Ordena com um sorriso. Unifica. 

A equipe da cozinha se desdobra num trabalho muito árduo de produção do alimento; poucos cozinheiros (as) assistem a festa, tão grande sua labuta, mas garantem seu êxito, pois não há Festa do Divino sem fartura alimentar. É assim desde sempre, nas suas imemoriais origens. 

Reis e rainhas com suas capas esvoaçantes e coroas luzidias se posicionam para o recolhimento do reinado. Enquanto isto, no templo, fieis se sucedem em preces e veneração, admirando a beleza dos andores, diante dos quais não param de produzir selfies, fixação perene da cena de sua integração ao sagrado. 

Outros mais, nas barracas, comem, bebem, conversam, riem. Alegram-se. Ambulantes circulam vendendo picolés, algodão doce, pipocas. Outros trabalham, catando latinhas de refrigerante descartada,s afim de vendê-las para reciclagem. 

Sinos dobram. O incenso ascende e rescende. Santa Missa chama aos filhos de Deus para ouvir a palavra bendita da salvação. Pentecostes se impõe como um clamor pascal. Todos os padres da diocese deveriam ter ouvido o sermão do Bispo Emérito, Dom Waldemar Chaves de Araújo, esclarecendo e valorizando o papel da cultura popular na identidade coletiva e na evangelização. Prédica notável! Lição de valores e respeito!

Fé e cultura de mãos dadas são partícipes da construção coletiva da identidade e do bem comum. Juntas se potencializam em sinergia. 

A coroa recai sobre um jovem imperador. Esperanças se renovam rumo ao futuro. A festa deve seguir, perseverar... superar. A procissão inunda as ruas de preces e ecos de tambores; devotos se alternam na condução dos andores! Assim mesmo, poeticamente, como uma rima afetiva. Não há Festa do Divino sem emoção. Seria uma falsificação fria e grosseira se não gerasse a empolgação que semeia. Pedidos especiais são muitas vezes são feitos nesse momento de carregar nos ombros o andor pesado. é como uma penitência, mas no melhor sentido que a palavra comporta. Cavaleiros na dianteira ostentam o estandarte rubro. O Divino embandeirado abre alas. Chegada esfuziante! Bênçãos... "Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe!"

Mastros vem ao chão: "Ai, vem do céu, bandeira!" canta o capitão. Ano que vem tem mais. Esperamos. E que seja cada vez melhor. 

O sábado, véspera de Pentecostes, 03/06/2017:

Festa do Divino, festa da alegria.
Folia de Coqueiros (Nazareno/MG). 
A corte do imperador se prepara: a Procissão do Imperador Perpétuo
vai descer mais uma vez rumo ao Santuário de Matosinhos. 
A procissão parte, avermelhando as ruas de graças afogueadas:
irmãos do Santíssimo, bandeireiros, folias... 
Folia do Elvas (Tiradentes/MG) em cantoria sob a voz do Embaixador "Natal". 
Mestre Matias: excepcional vitalidade na prática da tradição. 

Um ícone da festa: o Mordomo da Bandeira, sr. Mário Calçavara,
na charrete segue fielmente, como faz todos os anos, desde 1998. 
A "Rua da Prata" (Padre José Maria Xavier) é tomada:
louvores em versos de folia. 
Cavaleiros abre o cortejo procissional atravessando a Ponte do Rosário. 

O Imperador Perpétuo, Santo Antônio, no interior da liteira. 
O Folião Ventura em carinhoso e respeitoso gesto com a imagem
de Nossa Senhora do Rosário, exposta no trajeto, junto à Gruta do Divino. 
O Pároco dirige as preces na área da Gruta do Divino. 

Notas e Créditos

* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli
*** Obs.: confira na próxima postagem uma sequência de fotografias do dia maior


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